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Que país este, onde tanto se opina e nada se conclui. Onde qualquer tempo de processo, paradoxalmente, é cem vezes maior que o tempo de execução. Onde se demoram décadas para algo acontecer.
Sou de uma geração que viu o crescimento do país, as estradas e autoestradas a surgirem, os territórios a ficarem mais perto dos grandes centros e, as zonas industriais crescerem nos nós viários. Os jovens terem acesso à educação, nomeadamente à universidade. Na minha aldeia, quase todos foram licenciados e muitos deram cartas nas suas profissões.
De repente, entrámos no século XXI e o que acontece? Surge a era digital e o tempo das redes sociais. As opiniões ampliam-se, e quem lê, transforma-as em doutos pareceres. E cria-se o marasmo num país em que as banais opiniões digitais, a que se associam os inúmeros comentadores das televisões e decisores mais preocupados com as eleições e menos com as gerações, levam a que o país desaconteça!
Esta teia de posições cria tal nebulosa que impede, coletivamente, que se pense o futuro de forma estratégica e integrada.
E assim, passam-se 50 anos sem a localização do novo aeroporto, e mesmo hoje, pode não estar na equação a perspetiva do território na construção da cidade aeroportuária, ou não fosse um aeroporto muito mais que um nó de mobilidade; passam-se décadas sem a efetiva aposta na ferrovia e, quando surge, reduz-se à eletrificação de canais já subdimensionados; e até o tema bitola continua por resolver.
E entretanto, o setor público, de interesse nacional, foi sendo tomado pelo setor privado, de interesse lucrativo. Que tempo descontinuado este! Que venham decisores para nos acertar com o nosso tempo.