O país acorda e deita-se estupefacto, em razão da sucessão de casos, peripécias e surpresas. A paciência e o grau de tolerância dos portugueses estão a diminuir na exata medida da escalada dos sinais de desgaste de quem governa.
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Os focos de instabilidade sucedem-se e a inabilidade para os resolver começa a ser evidente. Na educação, com a interminável contestação dos professores sem que se consigam perceber avanços significativos nas negociações entre ministério e sindicatos; na gestão do dossiê da habitação, onde a contestação ao programa apresentado é praticamente unânime; no setor da agricultura, onde a confederação mais representativa reclama mais apoios e outro acompanhamento por parte da tutela.
Na rua, somam-se greves. Na justiça, nos transportes. Milhares de profissionais saem à rua semana sim, semana sim. Reivindicam o descongelamento de carreiras, exigem a revisão do estatuto remuneratório e melhores condições de trabalho. Se para uns - grevistas - todas as reivindicações são justas e oportunas, para outros - Governo - são entendidas como irrealizáveis, culminando num diálogo surdo, sem fim à vista. Visto de fora, parece que estão goradas todas as possibilidades de estabelecer uma plataforma comum que conduza a um entendimento mínimo.
Entretanto, na AR, a comissão parlamentar à gestão da TAP vem colocar a nu tudo o que já se suspeitava: uma plêiade de anomalias no relacionamento do Governo com a companhia aérea, com interferências diretas e condicionamentos na "governance" da sociedade, imiscuindo-se diretamente os membros do Governo na gestão operacional, limitando-a e instrumentalizando-a para fins de natureza política. Sem qualquer outro critério que não o de retirar beneficio político direto para a tutela ministerial, entregue nas mãos de gente sem competência ou qualificações para gerir ou decidir sobre o que quer que seja. Nos intervalos, exoneram-se CEO, despedem-se trabalhadores e indemnizam-se administradores. Tudo feito com a leviandade própria dos impreparados, sem qualquer rigor ou ponderação. Aparentemente, a TAP é uma empresa em autogestão, refém de um ministério entregue nas mãos de meia dúzia de comissários políticos de carreira.
Tudo remete para uma espécie de país em stand-by. Não se tomam decisões estruturantes, não se lançam reformas de fundo, nada se transforma. A ordem é para sobreviver ao dia de hoje, e amanhã logo se vê. É o primado da gestão politica diária, rotineira, sem horizonte. É pouco e não nos leva a lado nenhum.
Jurista e gestor