Percorro, na tarde de quinta-feira, as principais revistas internacionais e testemunho, em diferentes geografias, os mesmos problemas, semelhantes angústias e idêntica persistência em encontrar uma esperança num futuro sem tempo para retomar alguma normalidade perdida. Todos são unânimes em reconhecer que o Mundo atravessa mudanças profundas. Que ainda não sentimos de forma plena.
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A revista brasileira "Veja" coloca em capa aqueles que designa como "os heróis de guerra", ou seja, os profissionais de saúde que trabalham no hospital paulista Albert Einstein onde foi detetado o primeiro caso do país de Covid-19. "Só saberemos se estamos preparados para as batalhas na hora em que a guerra começa", confessa o diretor desta unidade de saúde. Os repórteres mostram profissionais desesperados em luta pela vida dos seus doentes, pessoas em estados extremos de ansiedade, queixas de falta de material de proteção... Não será este retrato muito diferente de outros hospitais. A revista "L"OBS" dedica um extenso artigo à falta de máscaras. O texto intitula-se "o escândalo de uma penúria" e fala dos apelos que vários diretores de hospitais franceses fizeram às empresas têxteis das suas regiões para fabricarem máscaras. E obtiveram uma resposta imediata, embora o material não seja o ideal para contextos hospitalares.
Percebe-se que o Estado, que hoje adquire uma maior centralidade, não consegue dar resposta a tudo, ainda que esteja cada vez mais presente nas nossas vidas. A revista "NewStatesman" fala-nos deste regresso em força do Estado social e dos riscos que uma maior intervenção dos governos pode ter no deslizamento dos regimes democráticos para um poder mais autoritário...
Há umas semanas a revista "Time" anunciava o fim de uma primeira fase da globalização. Esta semana, a revista "Courrier International", feita integralmente em regime de teletrabalho, aconselha-nos a "repensar o Mundo". De forma positiva. Não está fácil... Leio devagar a carta que o filósofo italiano Massimo Cacciari escreve a uma "Itália do passado". Situa-se em 2040 e tem em mente aquilo que o país viveu em março de 2020, momento a partir do qual os políticos perceberam que tinham de mudar tudo, a começar pelas políticas públicas e pelas lógicas em que baseavam as suas interações. Porque, como se escreve, a Covid-19 não mata apenas pessoas. Retira-nos modos de sobrevivência e vai fazendo-nos sucumbir por dentro. Que todos saibamos fazer frente a tudo isso.