É uma cavalgada consumista inglória aquela a que todos os anos nos propomos no Natal.
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O que devemos oferecer àquelas pessoas que já têm tudo? E se já têm tudo, por que carga de água devemos dar-lhes o que quer que seja? Imaginem o diálogo: "Este ano não te comprei nada (e faz-se um silêncio estranho na sala...). Mas já tens tudo, não é?" Obviamente que a pessoa que já tem tudo acha sempre que ainda lhe falta algo. Embora não o reconheça, porque isso seria fútil. Por outro lado, o nosso desprendimento material pode ser entendido como uma afronta à pessoa que era suposto estimarmos. Ou seja, acabamos invariavelmente por adquirir um objeto que não muda uma vírgula na existência do ser humano que queremos agradar e que nos preenche mais a nós do que a esse ser humano. Os dilemas do Natal estão claramente sobrevalorizados: para termos preocupações, ao menos que seja com a anarquia dos ingredientes do molho das rabanadas e a quantidade exagerada de vinho tinto que pomos no copo.
Jornalista