Bastou saber-se que D. Manuel Clemente colocou nas mãos do Papa Francisco a sua continuidade à frente da diocese de Lisboa, para a opinião publicada passar a considerá-lo "demissionário". Começaram, então, a elencar os possíveis candidatos à sucessão.
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As opiniões balanceiam entre um patriarca com um perfil mais intelectual, à semelhança dos anteriores, ou alguém mais jovem e mais pragmático. Hábil a resolver problemas, em especial financeiros.
Ora, os critérios deveriam ser os evangélicos. É certo que se precisa de uma pessoa com vigor intelectual e que saiba resolver os problemas que surjam; mas este deverá ser, sobretudo, um líder à imagem de Cristo o Bom Pastor. "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 10, 11). Um pastor com o "cheiro das ovelhas", como repete o Papa.
Não faltam em Lisboa padres que se gastam ao serviço das ovelhas que lhes estão confiadas. Pastores que construíram as comunidades quase a partir do zero, ou que as reconstruíram e renovaram à imagem de Cristo o Bom Pastor. Há bispos saídos do clero do patriarcado com estas características.
Quem conhece o cheiro às ovelhas sabe como ele pode ser desagradável. Como é incómodo para quem não está habituado. Como é mal tolerado pelos narizes delicados dos que se passeiam pelos corredores perfumados do poder.
Há, portanto, o risco de que prevaleçam outros critérios. Que sejam preteridos pastores com o "cheiro das ovelhas" - e que seja escolhido um mais fragrante e macio, tanto para o poder político como para o eclesiástico. Um dos que tendem a calar a denúncia das injustiças para não prejudicar a respetiva carreira.
É este o risco: o de que a escolha do sucessor de D. Manuel Clemente não seja calibrada por critérios evangélicos. Resta aguardar e rezar ao Espírito Santo para que ilumine a decisão.
*Padre