A previsão de chegarmos a uma imunidade de grupo no final deste verão tem suscitado anúncios precoces de uma outra vida quando regressarmos de férias.
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Falta ainda conhecer a percentagem da população que deve estar imunizada para se atingir tal fase. Os especialistas começam agora a falar de escalas acima dos 85 por cento. E isso implica que se vacinem também os mais novos. Já e em força.
Em Portugal, a vacinação tem corrido bem e já há uma parte considerável da população adulta com duas doses. No entanto, falta integrar os jovens neste andamento. A intenção é fazer essa inoculação nos meses de agosto e de setembro. Ora, isso implica que haja doses disponíveis para tal e que os mais novos compareçam à chamada num tempo de férias grandes para eles e de descanso sempre curto para os pais. O processo pode ser muito agilizado através do autoagendamento, mas é preciso comunicar de forma clara como tudo será feito. Ter os mais novos vacinados a tempo do início do ano letivo parece um desígnio dedálico. Não há muito tempo pela frente.
Para além de garantir uma rentrée escolar com menos constrangimentos, a vacinação dos mais novos começa a ser encarada como uma variável imprescindível para se atingir a imunidade de grupo, que parece ter sido subavaliada. Se a percentagem crescer, temos de alargar o número de vacinados. Para isso, temos de garantir doses suficientes, acelerar processos e, o mais difícil, ultrapassar a desconfiança relativamente à aplicação desta vacina aos mais novos, um grupo que não tem sido particularmente atingido pelo vírus. A comunidade científica divide-se e isso dificulta (muito) a decisão dos pais.
Há ainda outros desafios para esta época. Com a mobilidade a acelerar bastante em tempo de férias, os portugueses preencherão os próximos dias com viagens e reencontros vários. Será difícil manter o distanciamento físico e o uso da máscara. Valer-nos-á a vida ao ar livre, mas nada disso poupa os riscos que poderemos correr. Caberá ao Governo e às autoridades de saúde fazer o equilíbrio entre o alívio na comunicação das medidas e a chamada de atenção para um comportamento responsável.
Terça-feira é dia de reunião no Infarmed e na quinta-feira decorrerá o Conselho de Ministro. Daquilo que aí será anunciado e decidido dependerá parte do nosso verão, mas, sobretudo, condicionará o inverno. Estamos num tempo de contagem decrescente para sair do pesadelo, mas isso implica maiores responsabilidades. Nas decisões e nos comportamentos.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho