O inimaginável acontece aos 9 minutos de jogo. Pepê falha um golo de baliza aberta, bola miraculosamente em sobressalto, ente sem destino a subir à linha do joelho antes do remate comprometido com o falhanço. Este lance, premonitório, desencadeou uma sucessão de eventos.
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Como se a maldição de Bryan Ruiz abatesse sobre o brasileiro e alastrasse, como epidemia, a toda a equipa. A partir daí, foi o que se viu. Um VAR actuante como nenhum outro (muito menos o da véspera) a decidir todas as dúvidas de interpretação para o mesmo lado, colocando uma expulsão e um penálti na órbita de uma derrota, a partir daí, anunciada. A expulsão de Uribe, na segunda parte, verteu a sentença sem remédio: era cedo demais para deitar a toalha ao chão, mas tarde demais para fazer o que quer que fosse.
A gestão de duas derrotas amargas, evitando a ruptura anímica, é a principal preocupação. Esqueçam os processos de jogo, esses estão lá, como se viu em Milão e no início do jogo frente ao valoroso Gil. Como se reequilibra um grupo de jogadores que sentem ter caído a ficha da perda é algo que só está ao alcance de uma resposta colectiva. Antes quebrar que torcer, ninguém se verga ou atira a toalha ao abandono. Mais do que acreditar, a honra é um princípio que vive para além da fé. Esta equipa merecia mais, ainda que exposta às suas próprias culpas. Onde outros encontram ajudas, o F. C. Porto encontra critério rigoroso ou decisões dúbias. Convinha que também não autoconvocasse agora o abismo.
A subir
A exibição em Milão e a reacção à perda frente ao Gil Vicente foram convincentes sobre a qualidade e o carácter da equipa. Agora que a diferença pontual para a liderança aumenta e acrescenta improbabilidades, importa que ninguém se esqueça da identidade e da construção que tem de sobreviver à derrota nestes dois jogos.
A descer
É difícil entender como se entregam pontos desta forma, ainda que numa partida atípica que tinha tudo para poder correr distintamente. Independentemente dos azares de circunstância ou juízo, é impensável que uma equipa se coloque, desta forma, à beira do abismo e que, com a expulsão de Uribe, tenha resolvido saltar.
*Adepto do F. C. Porto
O autor escreve segundo a antiga ortografia