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Não podemos dizer ainda com certeza o que vai resultar do exercício eleitoral irlandês. São engraçadas as imagens de voluntárias, já de uma certa idade, de dedal enfiado no dedo a fazerem e refazerem as inúmeras verificações dos boletins de voto para que se estabeleçam em segurança as escolhas dos eleitores nesse difícil sistema do voto único transferível.
Fica-se mesmo a cogitar por que é que um país que é sede das maiores multinacionais, também tecnológicas, não ensaiou já um sistema eletrónico de voto (e respetiva validação de eleitores) por forma a que os necessários arranjos e combinações entre as várias preferências registadas pudesse garantir resultados em tempos mais aceitáveis.
É que estamos todos interessados em perceber até que ponto se confirma esta tendência pavloviana de rejeitar (ou não dar condições explícitas de governação) os partidos (ou coligações) explicitamente comprometidos com as políticas de austeridade e, sobretudo, com um certo discurso fatalista e correspondente perceção de genuflexão em Bruxelas.
Com a exceção da Grécia, que verdadeiramente não conta porque pensava confirmar a revolução (reelegendo Tsipras), nenhum dos países do ajustamento ou do quase-ajustamento (como Espanha) conseguiram produzir governos viáveis ou maiorias sólidas a partir dos elencos partidários imediatamente anteriores.
Claro que, verdade seja dita, qualquer destes países quer acreditar que o pior já passou. E, neste caso, a Irlanda pode ser criativa. Cresceu como quase nenhum outro país no Mundo em 2015, tem razões para acreditar nas previsões que lhe atribuem taxas de crescimento acima dos 3% nos próximos 3 a 5 anos e tem uma folga orçamental tão considerável que lhe permite avançar com um programa de gastos públicos que vale 0,7% do PIB.
Talvez por isso possa voltar a eleições como tempo e a calma de quem tem dinheiro para esperar.
Até porque nada do que é realmente importante na Irlanda - e chama-se investimento direto estrangeiro - pode ser posto em causa por um qualquer impasse eleitoral. Uma taxa de IRC a 12,5% num país anglófono, com boas infraestruturas para acolhimento industrial de última geração, é vantagem competitiva muito difícil de abater. Desde que o sistema bancário funcione e aí o país atacou o mal pela raiz. E não consta que a nacionalização da quase totalidade do sistema bancário tenha feito tremer os pergaminhos ideológicos da União. Pelo contrário, fez tremer os mercados enquanto não aconteceu.
Que a coligação liderada pelo Finne Gael não seja recompensada nas urnas. É dos livros.
Churchill também não venceu as eleições depois da II Guerra.
ANALISTA FINANCEIRA