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Devo dizer, sem rebuço, que, enquanto portuense, fiquei radiante com a abertura do Mercado Time Out no sítio que, há oito anos, lhe estava destinado e, durante algum tempo, não andava nem desandava.
Das razões de tal nem não, nem sim já não apetece falar porque o Mercado fez-se, abriu e recomenda-se. Finalmente, em pleno coração da urbe, este espaço nobre que se encontrava em estado indigno, desolado e quase vergonhoso, foi devolvido ao nosso usufruto. E com a qualidade que se exigia à reabilitação daquela parte nunca arquitectonicamente valorizada do complexo cívico chamado Estação de S. Bento. Digo “nosso usufruto”, porque não considero a obra uma consequência mais da adaptação da cidade aos desígnios do turismo. Com certeza – e não seremos ingénuos quanto à bondade do investimento –, o sucesso turístico do Porto e da sua internacionalização justificaram os objectivos que presidiram à concretização do projecto.
Mas ele aí está, para nós e para os outros (e pelo que se viu na inauguração, os portuenses, por curiosidade ou vontade de ver e experimentar, aderiram, com entusiasmo, às atracções propostas). Que diferença, agora, entre este lado Sul da estação e o outro, da Rua da Madeira, verdadeira inutilidade (não haverá quem queira reabilitá-lo para qualquer fim prático e útil?)
Só espero que esta transformação urbana da mediocridade em modernidade com tradição dentro, alastre à Rua do Loureiro, outrora estuante de comércio e população e agora convertida em terra de ninguém (ou melhor: terra de alguém que não sabemos o que quer fazer com aquele pedaço do melhor Porto).
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)