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O pagamento do subsídio de férias ou, em rigor, do que falta do subsídio de férias dos funcionários públicos reuniu a quase unanimidade das opiniões, desde a direita à extrema-esquerda: todos a favor. Nada disso demoveu o Governo. Em rigor, tal era de esperar: aquando da decisão do Tribunal Constitucional, a reacção do primeiro-ministro fazia adivinhar que as emendas seriam piores do que o soneto. Tal não decorria directamente da necessidade de cumprir o que havia sido acordado mas de um espírito, entre o revanchista e o mesquinho, de que o Governo ia dando provas. Some-se uma dose de arrogância para além do necessário e outra de incompetência política e temos os ingredientes para uma decisão que há-de ficar para a história política, pelo menos, no anedotário. Ainda se tudo se resumisse a uma mera provocação gratuita! Mas o caso é que o pagamento poderia ser um sinal de tréguas e ter, até, algum efeito de reanimação da procura interna, sem a qual o crescimento económico se torna quase numa miragem. Que as ideias sobre como se há-de promover o crescimento económico não abundam no Executivo, já sabíamos. Ao contrário do que imaginavam, a criação das condições de base que constam dos modelos não são suficientes para que os empresários comecem a investir, o emprego a crescer, o investimento estrangeiro a fluir. O que não sabíamos, e ninguém entende, é que, por pequenez ou total subserviência aos burocratas da troika, se desperdice uma oportunidade para fazer algo de que não podia vir nenhum mal ao Mundo, muito pelo contrário.
Talvez por não ter nenhuma ideia sobre o que fazer, o Governo menospreza os pequenos passos. É assim com o subsídio de férias dos funcionários públicos como tem sido com a SRU do Porto. Os mais cínicos e pragmáticos diriam que não se compra uma guerra com o Porto apenas por 2 milhões de euros. Se estivessem em causa princípios essenciais, até se comprava por menos. Só que, neste caso, ninguém percebe exactamente o que move Assunção Cristas, seja ou não uma mera marionete de outra mão escondida. Tal como no caso do subsídio de férias, a reabilitação urbana é um tema consensual. O modelo escolhido poderá não ter sido o melhor ou a estratégia seguida ser discutível. Certamente, mas sobre isso pouco se ouviu e o que se ouviu foi confuso e contraditório. Pelo contrário, sobressaiu uma lógica de guerrilha administrativa, paralisadora da actividade da empresa, com consequências sobre um processo que, mal ou bem, ia produzindo resultados e tendo algum impacto na actividade económica. Até parece que não precisamos de crescimento.
Também a forma como tem sido gerido o dossiê das administrações portuárias é lamentável. Mantidas em mandato de gestão corrente há mais de um ano, à espera de serem substituídas ou reconduzidas, vêem-se confrontadas com a necessidade de tomarem decisões para as quais não têm legitimidade. Os jornais deram conta da insatisfação do principal operador de Sines, aparentemente disponível para novos investimentos, que poderiam potenciar a capacidade de atracção do porto, mas sem interlocutor capaz. A plataforma logística de Leixões e o terminal de cruzeiros hão-de estar a entrar numa fase crítica, não sendo óbvio que a respectiva administração, manca de um membro há quase dois anos, possa decidir e gerir investimentos nessas e noutras frentes, de modo a dar continuidade à estratégia que deu àquele porto um protagonismo que, durante muitos anos, não teve. O papel das infra-estruturas portuárias na competitividade do país é, mais uma vez, tema consensual. Reconhecido nos discursos tarda em sê-lo na prática. No caso das administrações portuárias é preciso apenas bom senso. De um governo que diz querer promover o mérito, espera-se que não prevaleçam os critérios partidários. Ouçam-se as comunidades portuárias. Substitua-se quando, e onde, for preciso. Reconduza-se quando for merecido. Reintroduza-se a normalidade na gestão para que os portos possam dar continuidade ao que de bom vinham a fazer.
O caminho do crescimento é longo e difícil. Dar tiros nos pés torna--o irrealizável.