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A máxima que o escritor George Orwell escreveu para criticar as utopias de Esquerda - "Todos somos iguais, mas há uns que são mais iguais do que outros" - é um verdadeiro canivete suíço argumentativo, capaz de lidar bem com diferentes situações do nosso espaço público. E então em tempos de populismo, em que com uma ideia feita, um chavão bem colocado, se tenta garantir as benesses da maioria, a frase é incontornável.
Veja-se o caso que fez manchete do JN ontem: o secretário de Estado enquanto gestor privado montou um financiamento para o TGV que incluía swaps que já custaram ao Estado 152, 9 milhões. Acontece que este foi o Governo que num movimento de purga decidiu, sem apelo nem agravo, porque esse era o vento político que soprava, arrumar com três secretários de Estado porque no passado tinham negociado swaps prejudiciais para o Estado. Por que é que na altura Sérgio Monteiro não saiu do Executivo? Pois: "todos somos iguais, mas...".
A ministra das Finanças (que, já agora, também negociou swaps) encontrou uma forma de os reguladores da Bolsa e dos seguros receberem vencimentos equiparados aos dos do Banco de Portugal. Não é errado os reguladores receberem bem, dadas as suas responsabilidades, mas acontece que foi esta maioria que decidiu elaborar uma lei que impedia salários maiores que os do presidente da República e do primeiro-ministro. Parece que algo está a escapar à plaina populista porque, como se sabe, "todos somos iguais, mas...".
A mesma ministra , aliás, já tinha dado um exemplo semelhante quando recentemente decidiu criar uma carreira especial para os técnicos das direções-gerais do Orçamento e do Tesouro, que estão na sua dependência que, no mínimo, terão um aumento de 52 euros, enquanto os outros funcionários públicos continuam a ter as suas carreiras congeladas. Já sei o que estão a pensar: "todos somos iguais, mas...".
E como comentar serem os diretores de empresas (pág. 29) os únicos que, em tempos de aperto, tiveram direito a subida de ordenado? Pois.
Com o populismo à solta, em ano de eleições e de distribuição de benesses, acreditem que nos vamos lembrar muitas mais vezes do "Triunfo dos porcos".