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Na primeira entrevista desde que foi eleito em maio, Leão XIV desfez quaisquer dúvidas sobre a orientação que vai impor à Igreja Católica. Depois do pontificado de Francisco, marcado por sinais de mudança e de abertura - ou, pelo menos, ventos de esperança -, agora, a palavra de ordem é continuidade. Sem ruturas. Sem polémicas. Sem disrupção.
O Papa de 70 anos, e o primeiro norte-americano a sentar-se na cadeira de Pedro, quis apaziguar o setor mais conservador da Igreja, rejeitando mudanças em temas fraturantes. "Acredito que o ensinamento da Igreja se manterá como está", respondeu quando questionado sobre eventuais alterações doutrinárias. Em concreto, sobre a ordenação de mulheres diaconisas, um debate promovido por Francisco, disse que "não tem qualquer intenção de mudar os ensinamentos da Igreja sobre o assunto" a curto prazo.
E se o seu antecessor abriu as portas da Igreja a casais do mesmo sexo, ainda que sem mudanças formais na doutrina, o que espoletou a ira da ala dura da Igreja, Leão voltou a fechá-las. "Qualquer tema relacionado com questões LGBTQ é altamente polarizador (...) estou atualmente a tentar não aumentar nem promover ainda mais a polarização na Igreja", justificou. Mas não se coibiu de criticar alguns rituais, já praticados no Norte da Europa, para abençoar "pessoas que se amam". Importante, frisou, é apoiar a família tradicional, leia-se "pai, mãe e filhos" [sic].
Na entrevista publicada no livro "Leão XIV, cidadão do Mundo, missionário do século XXI" (em tradução do espanhol), o líder dos 1,4 mil milhões de católicos romanos não quis imiscuir-se nos grandes temas da atualidade: recusou envolver-se em "política partidária" quando questionado sobre Trump e furtou-se a qualificar de genocídio a matança em Gaza. Depois do Papa de "todos, todos, todos", segue-se um líder tático, pacificador, adepto do status quo, que rejeita abrir a Igreja à diferença.