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Ninguém viu nada, ninguém sabia de nada, ninguém nunca se apercebeu de nada, ninguém discutiu nada, ninguém descobriu nada, ninguém acautelou, ninguém previu, preveniu, antecipou, advertiu ou adivinhou? Ninguém avisou ninguém? Não houve um regulador, um político, um empresário, um banqueiro, um legislador, um procurador ou um governante? Não houve mesmo ninguém com poder que tivesse sido capaz de dizer basta, que assim não pode ser, que soubesse que o dinheiro não tem pátria, mas tem naturalidade, que pode estar escondido, mas continua a cheirar mal, que mesmo que esse dinheiro todo tenha donos, não pode haver donos de nós todos?
Não estava à vista da autoridades europeias e mundiais que tantos milhares de milhões dos offshore andavam a circular encobertos? Se foi assim com uma empresa, a Mossack Fonseca, o que ainda escondem todas as outras que prestam os mesmos serviços? Era segredo que os fundos transferidos para os paraísos fiscais deixam para trás o inferno para os povos e Estados a quem foram subtraídos esses rendimentos?
Qual é o limite para a ganância, a partir de que ponto os milhões deixam de ser suficientes? Quando é que passa a ser normal ganhar tanto dinheiro e ainda assim fugir ao fisco, enquanto se vê o seu país afundar-se em pobreza, juros e dificuldades? Quem é que tem tanto que escolheu usar a lei para legalmente não pagar o que os outros tiveram de pagar a mais? Quem é que foi capaz de se rir tanto de nós todos?
JORNALISTA