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No próximo domingo, há eleições em Espanha. E anunciam-se mudanças radicais no seu mapa político. Um fenómeno, acrescente-se, que não é exclusivo dos nossos vizinhos ibéricos. Tão-pouco dos países do Sul, os mais afetados pela crise e pelas medidas de austeridade. Um pouco por toda a Europa, a alternância tradicional entre conservadores e sociais-democratas dá sinais de estar a ser substituída por outro tipo de alinhamentos. O desencanto de uns, a raiva de outros e a mobilização política dos restantes, tendo como pano de fundo comum um processo de globalização em que se aprofundam as desigualdades e um Mundo cada vez mais inseguro, estão a dar lugar a uma reação de protesto e reconfiguração política que se exprime nas urnas de formas bem diferentes.
Na Grécia, deu-se uma implosão dos socialistas, o acantonamento dos conservadores e o triunfo do Syriza, uma coligação de esquerda radical até aqui minoritária. Em França, a extrema-direita ganha força de eleição para eleição, ainda que afastada dos lugares de poder por uma coligação republicana cada vez mais frágil e pelo recurso à "batota" de um sistema eleitoral que impede a proporcionalidade. No Reino Unido, os independentistas ganham eleições para o Parlamento Europeu e obrigam os conservadores a convocar um referendo que pode atirar o país para fora da União, enquanto os trabalhistas escolhem um líder socialista com ideias que os seus pares consideravam anacrónicas e pareciam destinadas a permanecer na gaveta. Até em Portugal, ainda que não se registando nenhuma alteração de fundo no quadro partidário tradicional, se rompem muros e reservas mentais cimentadas ao longo de 40 anos, o que conduziu a uma inédita aliança dos partidos de Esquerda.
E, finalmente, regressando a Espanha, soa o toque de finados do sistema bipartidário. Se há certeza quanto a estas eleições, é a de que passará a haver quatro grandes partidos e que o Partido Popular (PP), ainda que seja o mais provável vencedor, será afastado do poder. Não poderá contar, sequer, com o Cidadãos, o partido emergente que mais se aproxima do ideário conservador, mas que foge como o Diabo da cruz de qualquer aliança com quem também representa as ambições dos herdeiros do franquismo, do extremismo católico e, acima de tudo, a apropriação corrupta dos recursos do Estado. O PSOE, até aqui candidato à alternância, também não cantará vitória. Não só vai sofrer, tal como o PP, enorme sangria de votos, como arrisca passar a terceira ou quarta força política, atrás do Podemos, outra das forças emergentes, uma espécie de herdeiro do movimento dos indignados que promete libertar o país da "casta" que o domina.
* EDITOR-EXECUTIVO