Ao estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que nos diz que vamos ter de trabalhar até morrer, o Governo acena-nos com um novo aumento real do valor das pensões em 2020. Em quem podemos e em que devemos acreditar? Em período de pré-campanha eleitoral, e num momento em que vemos o Mundo, incluindo Portugal, a silenciar a todo o custo figuras incómodas que divulgaram informações embaraçosas para governantes e poderosos de outras áreas, temos mesmo razões para ficar alarmados.
Se defender que a idade da reforma terá de aumentar em mais três anos para garantir a sustentabilidade do sistema de pensões não é assustador, então é porque já colapsamos mesmo antes do sistema. É que nem com planos de reforma vamos lá, a acreditar numa associação de defesa dos direitos do consumidor que nos informou que a maioria dos PPR nos fazem perder dinheiro.
Tentou sossegar-nos o ministro da Segurança Social. Arrasou o estudo. Acusa-o de ideias ingénuas. Diz que é só uma forma de abrir o mercado aos privados. Mas a pergunta vai perpetuar-se: há mais vida para além da reforma? Se calhar não.
O que não é desmentido por ninguém é que continuaremos a ser nós, os contribuintes, a ter que se chegar à frente para resolver aquilo que a classe política não consegue nem conseguiu resolver, tão entretida que tem estado a minimizar as consequências de andarmos sistematicamente a tapar buracos de bancos e créditos. Continuaremos a ser nós a sofrer as consequências de sucessivas más gestões. Nós, e os professores que neste país estarão aos 69 anos ainda à procura de um lugar nos quadros, nós e as educadoras que passarão a ser a avozinhas dos infantários, nós e os polícias que não terão preparação física para perseguir um criminoso. E os exemplos não parariam.
Passar os melhores anos da nossa vida a trabalhar é bom, quando crescemos e construímos algo. Passar os últimos anos da nossa vida a picar o ponto e a pensar que cada dia é um dia a menos para o nosso merecido descanso, é muito mau.
* DIRETOR-ADJUNTO
