Em Portugal, a Região do Norte, em geral, e os distritos de Porto e Braga, em particular, estão entre os mais afectados pela actual crise económica.
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Não podia deixar de ser assim, por aí se concentrarem as principais indústrias mais expostas ao comércio internacional. Não é, por isso, de estranhar a evolução do desemprego e a forte incidência de empresas com problemas que as análises económicas regionais vão revelando, com destaque para o excelente Relatório Trimestral que a CCDRN vem produzindo (disponível em http://www.ccr-norte.pt/regnorte/conjuntura). Não deixam, portanto, de ser surpreendentes os resultados conseguidos pelo Partido Socialista nos distritos de Porto e Braga, respectivamente o 1.º e o 2.º em termos de percentagem de votação. Uma parte desse resultado poder-se-á ter ficado a dever ao trabalho exemplar de alguns autarcas, como é o caso de Guimarães, Fafe, Santo Tirso, Vila do Conde ou, mesmo, Matosinhos. As eleições do próximo domingo desfarão as dúvidas. Qualquer que seja o desfecho é legítimo especular que um outro contributo, quiçá o mais importante, terá sido dado pelas políticas seguidas pelo Governo, nos domínios social, da economia e da formação. Para além de Sócrates, Vieira da Silva, Manuel Pinho, Teixeira dos Santos e Maria de Lurdes Rodrigues são alguns dos artífices dessa vitória. Com tanto desemprego e tantas empresas em dificuldades, os neoliberais são capazes de ter razão: o subsídio de desemprego é, em Portugal, generoso, em termos de valor relativo e de duração. Além disso, a rede de segurança constituída pelo rendimento social de inserção deve ter funcionado. Alguns dos investimentos trazidos para a região tiveram impacto (o PS subiu a votação em Paços de Ferreira, uma autarquia PSD). As linhas de crédito para as PME, mesmo que insuficientes, resolveram alguns problemas. O programa Novas Oportunidades deve ter permitido que a auto-estima de muitos trabalhadores tenha subido. Só assim se compreende o comportamento dos eleitores. Triunfou a política, ou melhor, as políticas. Com uma ou outra excepção, políticas defensivas, de protecção aos mais fracos e desfavorecidos e que justificaram o seu reconhecimento.
Mas que são insustentáveis por muito mais tempo. O mais difícil está para vir: como incutir uma nova dinâmica a esta região, quando se sabe que a massa dos desempregados tem baixas qualificações? O governo central pode ajudar ou, pelo menos, não atrapalhar. Por mim, sigo com atenção o empenho da CCDRN, mesmo com poderes limitados, na construção dessa Nova Região. E sinto alguma esperança quando vejo como os agentes locais, desde as autarquias às empresas, passando pelas associações, se têm vindo a empenhar em iniciativas como o chamado "Quadrilátero Digital", envolvendo as cidades de Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão. Numa região muito marcada por rivalidades espúrias, fruto de pequenos protagonismos, talvez a crise nos tenha ajudado a ganhar juízo. Eu bem dizia e pur si muove!
PS - Um dos nossos males é que as elites, escrevinhantes e falantes, lisboetas, não conhecem o país, sobretudo o Norte e, em especial, o Porto. Vivem de estereótipos. Não acreditam? Vejam a entrevista de Rui Rio aos Gato Fedorento.