Trabalho remoto: uma oportunidade para o Interior
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Desde a pandemia que o trabalho remoto passou de exceção a prática comum. Pode esta nova forma de trabalho ser um motor para a descentralização económica e combater o despovoamento do Interior de Portugal? Na minha leitura, sim!
Com este modelo em que se trabalha de e para qualquer lugar, acredito que haja quem prefira trocar horas de trânsito por sossego, poluição por melhor qualidade ambiental e gastos mais elevados pela sua redução. O caso particular dos jovens parece-me o principal ponto a favor das zonas interiores. Para além de se depararem com uma maior dificuldade no acesso à habitação nas grandes cidades, penso que uma parte procura um estilo de vida longe dos centros urbanos.
Em segundo lugar, as oportunidades existentes no interior nem sempre estão alinhadas com as competências das pessoas que pretendem migrar para lá, mas o trabalho remoto permite manter a profissão e mudar o lugar, podendo originar a fixação em territórios pouco povoados.
Em terceiro lugar, verificam-se políticas públicas de dinamização das regiões de baixa densidade: o "Emprego Interior Mais", que concede apoio financeiro a quem muda a residência para territórios fora dos grandes centros, e a "Rede Nacional de Espaços de Teletrabalho e Coworking", que cria locais preparados para trabalhar à distância nestas zonas. Cabe também ao setor privado a responsabilidade de contribuir para a prosperidade do país, nomeadamente destas regiões - já há quem o faça, atribuindo um bónus a quem se instala no interior, ainda que, por agora, em escala limitada.
Porém, claro que nem tudo é um mar de rosas: a integração em meios rurais pode exigir tempo e comunidade e nem sempre se atinge a integração plena, conduzindo, em alguns casos, à reversão da decisão de mudança. Como minimizar estas situações? Preparando e investindo no Interior. Ao fazê-lo, estamos a contribuir para o seu desenvolvimento. Infraestruturas digitais fiáveis e serviços públicos locais (saúde, educação, mobilidade) são condições base. E o turismo industrial e cultural pode reforçar a identidade e a atratividade dos lugares, criando mais motivos para ficar.Por fim, na minha opinião, haverá cada vez mais pessoas a ponderar esta alternativa e estou convencida que se conjugarmos esse aspeto com políticas inteligentes, comunidades ativas e empresas com visão, estaremos mais perto de promover a coesão territorial.

