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Quando pensamos no futuro do trabalho, deparamo-nos com duas imagens que parecem estar em diálogo silencioso: a Alemanha, cautelosa, acaba de recuar na ideia da semana de quatro dias, alertando para a estagnação da produtividade e a falta de mão de obra qualificada; e Bill Gates, visionário, que antevê um mundo onde a inteligência artificial (IA) permitirá trabalhar apenas dois dias por semana, libertando-nos para uma nova forma de viver.
Na Alemanha, o apelo é pelo esforço, pela responsabilidade, pela manutenção do que sustenta a estabilidade económica. No horizonte de Gates, brilha a promessa de mais tempo, mais espaço para a vida além do trabalho, mas também a sombra de desafios sociais complexos, como o desemprego e a necessidade de repensar o que significa distribuir o rendimento num mundo automatizado, enfim, repensar como gerir o tempo futuro de cada um. E quando entramos no mundo das empresas e das organizações, repensar como vamos conseguir gerir estes novos desafios de conhecimentos e competências, em que a IA fará parte dos quotidianos e está a um click das respostas, ao mesmo tempo que terão humanos para descartar.
Mas entre estas visões, há uma questão maior que não pode ser esquecida: o que faremos com o tempo que possivelmente ganharemos? Como manteremos a capacidade de amar, de cuidar, de estar juntos, num mundo que muda tão rapidamente? A resposta não está nas máquinas, nem nas horas trabalhadas, mas na nossa capacidade humana de criar sentido, de nutrir relações e de viver com profundidade. O futuro é incerto, mas a certeza que nos guia é esta: queremos um mundo onde o tempo, o trabalho e a vida se encontrem na ternura do humano.