Você me traiu, António, você me traiu!!! Logo agora que eu estava no caminho certo para conquistar o meu espaço, António... Toda a vida prá chegar ao topo...- Mas, meu bem, você não tá vendo tudo... Você não percebe... Você fala tão bem como o "picareta falante" mas fez tão pouco fora deste seu mundo...
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- Não diga isso, António!, que eu fiquei aqui tomando conta de tudo enquanto você estava à janela pensando apenas em você... Cafajeste... Todo o mundo xingando de mim e você longe, não querendo saber...
- Ora, meu bem, você não tá vendo que as coisas não estão indo?... Não chora, não... Mas não vai dar para confiar tudo isto prá você...
- Você é um falso, António!!! Que você bem podia ter tomado conta da nossa vida mais cedo se achava que eu não era capaz...
- Mas, meu bem... se você não tivesse a sua oportunidade ficaria sempre xingando a gente, a vida inteira. Ninguém teve coragem de travar essa vontade... Desde a infância repetindo: um dia vou ser o chefe! Um dia vou ser o chefe! Praticamente você nasceu dentro da nossa casa e nunca mais de cá saiu... Mas não dá mais... Você tá conseguindo ser pior que o Pedrinho...
- António, não me azucrina não!!! Você sabe muito bem que o Pedrinho tem aquela voz de tenor que rouba 40% do eleitorado das novelas... Acham que o Pedrinho é o António Fagundes com menos 50 quilos... E o Pedrinho faz de conta que é muito amigo dos pobrezinhos e não cortou nas pensões dos velhinhos na miséria...
- Mas, meu bem, o eleitorado é mais do que audiência de novela! Você foi prá TVI fazer um enredo que nem a Globo! Você é uma vítima de todo mundo! Mas todo o mundo está querendo alguém com outra coragem para não se empobrecer ainda mais...
- Você é um falso António! Como pode dizer isso, meu Deus! Você sabe muito bem que não há dinheiro e que temos de ganhar as eleições com "promessas claras" que são tudo menos claras, António... E eu já prometi de forma muito clara até que, depois de ganhar, posso tomar a decisão muito clara de aumentar os impostos para em simultâneo ser vítima da minha própria medida clara... E me demitir, claro!... Como se eu fosse duas pessoas diferentes!!!... Ai... veja ao que cheguei por sua causa, seu traidor...
- Ora, meu bem, não fique assim... Vai ganhar as eleições quem prometer cada vez menos... As pessoas estão acreditando mesmo que não haverá dinheiro nunca mais... Você entende, meu bem?!!
- Mas se é assim porque é que você baixou os impostos em Lisboa? Porque você faz uma coisa e diz outra, António?!
- Por favor, meu bem, se acalme... Não é isso... Olhe prá mim, vá, pegue um lenço... Isso... O importante, meu bem, é ir dando pequenos sinais de mudança, meu bem... Você estava fazendo bem com o IVA da restauração... Mas não chega, meu bem... Temos de falar também ao coração do país, com experiência de vida. E temos de ter também capacidade de argumentar contra pessoas sofisticadas: se lembra do Pacheco Pereira e do Lobo Xavier? Você acha que há alguém no FMI ou na Comissão Europeia pior que eles os dois juntos??? Meu bem, porque é que você não sai de casa por uns tempos e vai pró meu lugar na Quadratura?... E se pegasse um curso de Filosofia política na Sorbonne? Com jeito e tempo depois segue pra Bruxelas para vice-presidente do Parlamento Europeu, lhe prometo... Que acha disso, hem?!
- Não penso nada, cafajeste... Se partir desta casa nada ficará de pé. Nem você, nem a mobília, nem ninguém! Quero que todos morram!, ouviu? morram!!! Até mesmo ele ali, o da fotografia... que já está velho... mas não tão velho para não me trair...
- Ora, meu bem... não fica assim. A vida continua... Se é melhor pra você, quebre o que puder... Não se preocupa não... Parta tudo... Me quer atirar com a louça e a roupa suja? Faz isso! Faz! Mas depois parta você... A gente repara isto com jeito. Quando você voltar, a casa estará nova, talvez ainda haja tempo de derrotar o Pedro. E você até terá uma foto aqui na parede da casa, meu bem, com o seu epitáfio... "Quase-António"! Belo nome, hem?! Não se preocupa não...
- Seu cafajeste...
- Meu bem...