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Na política feita de memória e boa-fé, a afirmação de uma coisa e o seu contrário, pelas mesmas pessoas, confiando no esquecimento do tempo que passa, mostra um pecado eleitoral que não pode merecer perdão nas urnas. O PS publicou o projeto de programa eleitoral com que quer voltar ao poder, depois da bancarrota que trouxe em 2011. Percebe-se a vontade, que em democracia é legítima. Dispensava-se o transformismo.
O PS iniciou o documento ao ataque, acusando o Governo PSD/CDS de ter revelado "um constante preconceito em relação ao Estado e ao setor público, preferindo a via da privatização, da redução dos serviços públicos estratégicos e centrais do Estado (...)".
O mesmo PS que negociou as privatizações com a troika. E que no PEC de março de 2011 dizia sem equívocos, que "o programa de privatizações diminui a dívida pública e por conseguinte, os encargos a ela associados, o que se repercute positivamente no esforço de consolidação orçamental".
António Costa achará que as decisões que a seu tempo o PS inteiro - que se repete no essencial da liderança - teve como fundamentais, se transformam em "constante preconceito em relação ao Estado e ao setor público", pelo facto de serem tomadas por um Governo de cor diferente. Mas não.
Em 2011, o PS dizia naquele PEC que "continuará a promover-se, em geral, a alienação de (...) um conjunto de diversas empresas nas áreas da energia, construção e reparação naval, tecnologias de informação e comunicação, serviço postal, infraestruturas aeroportuárias, transporte aéreo e transporte ferroviário, bem como a alienação de ativos detidos fora do país".
Em todos os casos, referia-se ao setor e funcionários públicos, agora eclipsados por triste conveniência eleitoral da memória do secretário-geral do PS, que assobia para o ar, na esperança de que ninguém note.
Fique então com a lista transcrita das empresas que, tivesse o PS vencido eleições em 2011, já estariam - algumas estão - em mãos privadas:
Privatizações nos setores de energia (Galp Energia, EDP, REN, Hidroelétrica Cahora Bassa); construção naval e defesa (Estaleiros Navais de Viana de Castelo, Edisoft, Eid, Empordef IT); transporte aéreo (ANA e TAP); ferroviário (CP Carga e EMEF); financeiro (BPN e Caixa Seguros); comunicações (CTT); distribuição de papel (INAPA); mineiro (Sociedade Portuguesa de Empreendimentos); e concessão de exploração de linhas da CP.
Principalmente, recordemos todos, para que mais tarde ninguém se permita dizer que foi mais uma vez ao engano.