Defendo a construção de autoestradas com oito pistas à volta das escolas ou, em alternativa, rasgar avenidas até às salas de aula, para os pais mais diligentes largarem os filhos, pela manhã, e terem, à tardinha, a possibilidade de os recolherem sem amassar o trânsito e levar ao desespero os outros automobilistas, que às vezes nem têm crianças e só estão com pressa de ir trabalhar ou regressar a casa.
Corpo do artigo
Percebo muito bem o carinho dos progenitores que fazem questão de entupir as estradas porque não gostam de estacionar uns metros adiante e andar um bocadinho a pé. As meias solas estão pela hora da morte e caminhar, no século XXI, é junto à praia. Entendo-os como ninguém, embora os ache um nadinha cobardolas, porque se a Polícia resolve vigiar a hora de ponta em frente a um estabelecimento de ensino o trânsito flui. Mas não me tomem por insensível. Seria uma injustiça. Até porque, neste meu jeitinho sentimentalão, não há coisa mais comovente do que ver uma mãe classe média-alta a afagar os cabelos sedosos da cria e enchê-la de beijos antes de, quase no mesmo segundo, disparar um estridente "Passa por cima, parvalhão!", perante a buzinadela de um automobilista apressado.
*Jornalista