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Num Governo e numa governação que há muito perderam a noção de que só se obtêm resultados positivos quando há sentido estratégico na perseguição de propósitos, a última semana foi particularmente simbólica. Nela concentram-se factos variados que ilustram nitidamente a desorientação e o plano inclinado em que nos mergulharam. As novidades sobre a nova fornada de entregas de computadores Magalhães, o anúncio do arranque do pagamento de portagens nas Scuts, a guerra na polícia e o relatório do Fundo Económico Internacional, em conjunto, mostram tudo o que há para dizer sobre o executivo em funções.
Renegação primária de compromissos eleitorais, demagogia populista inconsequente, ligeireza voluntarista e resultados objectivamente caóticos, são quotidianamente evidentes. O "Magalhães" encarnou um objectivo bem intencionado - ter todas as crianças do ensino básico familiarizadas com tecnologias de informação/comunicação era uma saudável meta de primeiro mundo.
Contudo, o esquecimento de que previamente era necessário preparar e motivar todo o corpo docente, conceptualizar e desenvolver software educativo adequado, abriu a porta ao caricato - 90% do meio milhão de computadores já distribuídos ou estão em sub-utilização ou em pousio nas arrecadações de brinquedos fora de uso.
Agora, na véspera da anunciada distribuição de mais 250 mil, era sensato repensar o "dossier" e ter em linha de conta que o Estado já envolveu mais de 50 milhões de euros nesta aventura romântica.
Foi também esta semana que o secretário de Estado Paulo Campos, candidamente, veio anunciar que vamos começar a pagar mais portagens, agora nas famosas Scuts. Para aligeirar responsabilidades, fez questão de lembrar que tal só era possível graças ao sentido de responsabilidade do PSD - o mesmo partido que horas antes e horas depois Sócrates apelidara de irresponsável.
Mas se é verdade que só ficaram garantidos os princípios de igualdade de tratamento e de apoio às actividades "locais" por pressão do PSD, essa não é a questão essencial a valorizar. O verdadeiramente importante é o seguinte: o PS chegou ao poder em 2005 a jurar aos portugueses que nunca portajaria as Scuts. Mentiu!
Essa mentira e o subsequente adiamento da medida por 5 anos, custou ao Estado mais de 3 mil milhões de euros; 5 anos de pagamento da dívida externa! Quantos sacrifícios escusados para tantos pobres e desempregados!!!
Finalmente, agora avançou no meio de tal trapalhada e confusão que só traduz a falta de competência técnica e política que reina neste Governo moribundo.
Mas a semana foi fértil em balbúrdia e a anunciada greve da PSP e o processo disciplinar ao Presidente do Sindicato de Polícias esteve na primeira linha da informação. Uma polícia fustigada por salários débeis, por ausência de justas compensações ao risco, condicionada por leis que protegem sempre os delinquentes e culpabilizam sempre os agentes da autoridade, está legitimamente farta deste "status quo". É altura de ser feita justiça e assumir que não faz sentido que a PSP e os seus homens não possam ter os mesmos deveres, mas também os mesmos direitos que há muito têm os seus colegas de profissão em quase toda a Europa.
Chegou a altura dos partidos de poder entenderem que é dessa forma que se prestigia o Estado de Direito e se barra o caminho ao sindicalismo radical de extrema-esquerda. Não é através do caminho quase salazarento de sonegação direitos e de "criminalização" de agentes sindicais que lá chegaremos (como já o disse de outras vezes, tal acontece apesar de no MAI estar um dos melhores governantes. Só que o Governo, a sua liderança e as suas políticas são as que são).
Finalmente, foi ontem que o FEI publicitou os seus números relativos a 2010 - Portugal desceu mais dois lugares no ranking mundial da competitividade. É agora o 49º do planeta. Mais mais grave ainda: é o 107º no que diz respeito à mesma competitividade analisada em função da caracterização da legislação laboral! Paradoxo, num país já com 11% de desempregados!
Não será sensato o engº Sócrates não voltar a invocar o projecto de revisão constitucional do PSD em matéria de legislação do trabalho? Era, no mínimo um acto de decoro… Face a tudo isso, chegou o momento de reflectir sobre o que interessa mais a Portugal: uma crise crónica que nos mantém em coma irreversível por tempo indeterminado ou uma crise aguda que dê pranto e carpideiras em abundância mas que passe depois de um funeral curto e digno?
Cada vez haverá mais portugueses a inclinarem-se para o segundo cenário.
PS: Esta semana morreram de forma injusta e dramática 9 cidadãos portugueses em Marrocos. Mais uma vez, o secretário de Estado António Braga foi lesto e competente. Nem todos são maus neste Governo. O pior é mesmo a sua liderança e os seus objectivos gerais. Errados e inconvertíveis!