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A educação é um pouco como o futebol: todos sabemos alguma coisa sobre o assunto, todos temos uma opinião. No entanto, e ao contrário do que acontece no futebol, não somos meros treinadores de bancada. No mínimo, todos passamos pelos bancos da escola. E quase todos temos filhos ou netos que estão agora na escola. Ou seja, as opiniões que temos são baseadas na experiência, nossa ou da nossa prole. O que faz com que, no caso da educação, todas as opiniões tenham importância. E só isto já deveria ser suficiente para fazer com que qualquer mudança na área fosse ponderada até ao mais ínfimo pormenor, antes de ser anunciada e posta em prática. E que a sua comunicação e explicação, para além de coincidente no tempo, fosse exaustiva.
Não foi manifestamente o caso da mais recente reforma (ainda por cima a enésima) ao sistema de avaliação do Ensino Básico. A decisão foi tomada à pressa e baseada em algumas opiniões ouvidas no recato dos gabinetes, quando deveria ter sido alvo de uma discussão pública alargada. Sendo que a alteração, a acontecer, deveria ser válida apenas para o próximo ano letivo. Porque tal como no futebol, também na educação não se deve alterar as regras a meio do jogo. Uma decisão deste calibre precisa de tempo para ser ponderada, argumentada e calendarizada. A escola pública não é propriedade de um ministro (por melhores que sejam o seu programa e as suas intenções), nem de meia dúzia de peritos (há-os sempre disponíveis para todos os gostos e orientações), nem de diretores de agrupamentos, nem sequer dos professores ou dos pais.
Mais ponderação teria permitido por exemplo evitar alguns excessos discursivos sobre o potencial negativo ou positivo das avaliações a nível nacional (consoante se chamem exames ou provas de aferição). Nem os exames nos remeteram para o Inferno, nem as provas de aferição nos garantem o Paraíso.
Uma das vantagens da realização de provas a nível nacional no Ensino Básico (chame-se aferição ou exame) é permitir uma avaliação externa: ao conhecimento dos alunos, ao trabalho dos professores, à situação de cada escola ou agrupamento. É uma espécie de retrato do momento. No entanto, e salvo melhor opinião (e estou certo que as haverá), chamem-se exames ou provas de aferição, estas provas não foram, não são, nem serão a componente mais importante, seja para compor a nota, seja para despistar e colmatar as carências na aprendizagem dos alunos. Quem teve, tem e terá sempre um papel fundamental em qualquer dessas vertentes é o professor. Se o ministro tinha pressa em cortar com o passado, talvez devesse ter começado por aqui. Por valorizar o papel do professor.