1. Três meses depois do início da invasão da Ucrânia, a guerra entra numa nova fase. Uma guerra de desgaste que promete prolongar-se no tempo. O principal objetivo de Vladimir Putin caiu por terra, logo nas primeiras semanas: não foi possível submeter a Ucrânia, nem substituir o regime.
Corpo do artigo
E o objetivo é agora conquistar o pouco que ainda escapa ao controlo russo na região do Donbass e cimentar a presença na província de Kherson, junto ao Mar Negro. Será muito difícil para a Ucrânia recuperar estes territórios. Talvez seja até impossível, se pensarmos no preço a pagar em vidas humanas. Da mesma forma que os ucranianos foram capazes de resistir à ambição inicial de Putin, também para os russos será mais fácil defender territórios já conquistados.
2. Prolongue-se ou não a guerra, três meses foram suficientes para deixar marcas duradouras na Europa. Todos os países europeus vão gastar, nos próximos anos, muito dinheiro com as suas forças armadas. Mas, no que diz respeito à defesa, destaca-se o reforço da NATO. A Aliança Atlântica parecia politicamente moribunda, mas recuperou, com esta guerra, um papel central. Este é, aliás, um dos paradoxos desta guerra. Putin queria evitar um cerco da NATO à Rússia, mas, não só a Ucrânia reforçou os seus laços militares com o Ocidente, de uma forma que se adivinha permanente, como países com grande tradição de neutralidade, como a Suécia e a Finlândia, se juntam à aliança de defesa militar, completando o cerco à Rússia pelo Norte. Também nesta matéria, a Putin saiu-lhe o tiro pela culatra.
3. A guerra terá também efeitos duradouros na economia. Na da Ucrânia, alvo de uma destruição sistemática, tornando-a totalmente dependente da ajuda externa. Na da Rússia, porque, para além do custo da guerra, as sanções vão empobrecê-la durante muitos anos, mesmo com o dinheiro da venda de gás e de petróleo. Na da União Europeia, graças ao garrote provocado pelo aumento do custo da energia e à inflação generalizada. E na dos países mais pobres do Mundo. Como alerta a ONU, o aumento dos preços dos cereais e a dificuldade em garantir o abastecimento farão crescer, de forma desmesurada, o problema da alimentação. Dito de forma mais crua, haverá mais gente a morrer de fome nos próximos tempos.
Diretor-adjunto