<p>Obama governa. José Eduardo dos Santos (JES) também, embora haja um chefe do Executivo. Cavaco não: apenas modera. O primeiro celebra o primeiro aniversário. O segundo, 30 anos de poder. O terceiro, quatro em Belém. Obama tem uma base de apoio alicerçada nas duas câmaras. Nesse sentido, a perda do Massachussetts, para além do valor simbólico (soçobra num Estado onde ganhara a Bush com 25% de avanço), traz a Obama o espectro de manobras "flibusteiras" no senado. Isto é, de estratégias de bloqueio às "grandes reformas".</p>
Corpo do artigo
JES exerce um semipresidencialismo à francesa, em que o chefe do Estado, por exemplo, preside ao Conselho de Ministros. Ninguém se ilude sobre o facto de ser ele o vértice decisivo do Estado. O seu partido tem uma maioria esmagadora no hemiciclo, adquirida em eleições não conturbadas. Poderia esse MPLA ter aproveitado para, na nova constituição, reforçar os poderes presidenciais, continuando a manter o sufrágio directo para o órgão de chefia, e preparando urgentemente o processo. Preferiu um modelo de sufrágio indirecto, ou de designação por maioria parlamentar. Angola é soberana nesta matéria, mas não deve estranhar o espanto alheio: na tradição constitucional comparada, mais poderes implicam mais intensa legitimação de base.
Quanto a Cavaco, não navega em polémicas. Passou por cima da questão Alegre e da condecoração Santana, reafirmando que lhe interessa o rumo do Estado, e não o rumor de estrada. Não pode ser presidente e candidato ao mesmo tempo. Faz bem em não retornar ao combate político reservado aos partidos: quando o fez, brevemente, no dito "caso das escutas", não esteve feliz. Aprende com os erros do passado. Obama quer mudar a América, mas avisa que é apenas o semeador. Outras gerações colherão os frutos. Para os mais impacientes, isto significa que, sem resultados, Obama pode bem ser reenviado para o Olimpo dos intelectuais sem poder.
Cavaco e JES não estão sob esta ameaça: o angolano acha que já entrou para a História, e Cavaco não pensa, ainda, em reeleição. E pode não vir a pensar nunca. Mas só o dirá, certamente, na altura própria.
Obama gostaria, certamente, de ser tão soberano quanto ao seu futuro. Mas tem, pela frente, quantidades imprevisíveis, do Afeganistão a outras emergências.
Não controla aquilo que afecta os seus passos.