Dizem que o comércio tradicional do Burgo ou morreu ou está moribundo.
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No entanto, a jovem jornalista Maria Martinho ultimou um livro onde demonstra, inequivocamente, que vinte lojas ou actividades de tradição não só se mantêm como se renovaram e, nalguns casos, com esplêndida saúde. A questão consiste, aparentemente, em responder aos novos desafios de uma sociedade em mudança, adaptar a tradição à inovação e, sobretudo, afirmar a qualidade. Isto, além da utilidade da prática social do ofício, uma vez que, alguns, vindos do passado, não resistem porque deixaram de corresponder aos hábitos, necessidades de consumo e desafios da contemporaneidade.
Ciente disso, uma pequena investidora, com a moral dos antigos portuenses, resolveu tomar conta de um café de bairro, já encerrado, e transformá-lo num polo social da comunidade. Com os atributos do Burgo, chamou-lhe "Pé d"Tripa", proclamando, como profissão de fé: "Resistimos, num mundo que nega a paz, com este pé d"tripa (metaforicamente, resiste na Rua da Paz, n.º 5)".
O nome conta a "alma" do lugar: "Estamos ao pé de quem entra, à distância de um abraço. Aqui pede-se de tudo: um copo, um petisco ou mais um minuto de conversa. E somos tripeiros, com a força e a garra de quem nunca vira a cara à luta. Aqui a tradição sente-se com irreverência e cada cliente é recebido como vizinho de porta". E mais incisivamente: "Do Porto, com orgulho, sotaque e sem cerimónias". Eis, como se pode, a partir de um local ao abandono, dar a volta por cima e transformá-lo em ponte entre a inovação e a tradição, restaurando o espírito tripeiro.
O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA