De vez em quando, entretenho-me a ler os textos de João Galamba no blog "Jugular". Para quem não saiba, Galamba é um jovem, simpático e irreverente deputado do PS, o tal que no debate sobre o Orçamento aparecia na primeira fila, ao lado de Francisco Assis, gesticulando e lançando "bocas" à bancada do PSD.
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Foi, também, um daqueles solícitos economistas que escreveu um contramanifesto em que se defendiam todas as obras megalómanas do regime, plano que, como se sabe, e como muitos de bom senso já então assinalavam, teve de ser colocado na grande e obscura gaveta dos socialistas, onde se vão acumulando projectos faraónicos, planos voluntaristas, intenções generosas, benesses variadas, princípios ideológicos, promessas eleitorais e muitos outros desvarios.
Desta vez, e a propósito desse animado debate, João Galamba escreve esta pérola:
"Não sei se Ferreira Leite sabe - pelos vistos não sabe - mas, no sistema monetário em que vivemos, o 'dinheiro' não é um recurso escasso. Escassos são os recursos reais que o dinheiro pode comprar, não o dinheiro propriamente dito".
Naturalmente, e descontando a bravata e a desconsideração por Manuela Ferreira Leite que, goste-se ou não do seu estilo, não é uma ignorante na matéria, aquilo que Galamba quer dizer, e depois aliás explica, é que na sua opinião, o desemprego na Zona Euro é um risco maior do que a inflação. Ou seja, o ilustre deputado considera que "não haver dinheiro" é uma opção política que não resulta de uma restrição financeira ou económica, que resulta da "falta de visão e grandeza dos principais líderes europeus, que andam a brincar à democracia sem que percebam o que está em causa".
Ora, o que verdadeiramente me preocupa é que, ao que se diz, Galamba é uma das vozes que José Sócrates escuta com atenção. E, pelos vistos, ainda acredita que se o BCE fizer girar as rotativas, e começar a produzir euros para valer aos estados mais vulneráveis, como é o caso de Portugal, o desemprego se resolve à custa, apenas, de um aumento na inflação.
Desde logo, e quer Galamba queira quer não queira, Portugal optou por ser um dos parceiros menores da Zona Euro. Por isso, nunca terá influência suficiente para comandar as rotativas do BCE. Quem manda nelas são os franceses e, principalmente, os alemães, que sempre temeram a inflação desde os dias da República de Weimar, que abriu a porta do poder a Adolfo Hitler e que, para além do mais, se apressaram a fazer os sacrifícios necessários para porem as suas contas públicas em dia.
E, se não fosse o facto de Portugal estar inserido nessa Zona Euro, o dinheiro seria ainda mais escasso do que tem sido. Provavelmente, ninguém estaria interessado em emprestar-nos dinheiro e comprar a nossa dívida pública. Com a nossa balança de pagamentos, já se teriam esgotado as reservas de ouro e de divisas, e o dinheiro que pudéssemos então emitir apenas serviria para jogarmos ao Monopólio, porque não permitiria que fizéssemos pagamentos ao estrangeiro para pagar as nossas importações. Ou seja, o que Galamba não diz, é que a circunstância de termos uma inflação baixa em Portugal, resulta de ainda termos o euro como moeda, e que é por termos o euro como moeda que ainda vamos conseguindo contrair dívida junto do estrangeiro. Infelizmente, e esse também é uma questão de política económica, ou de economia política, porque a lógica faz parte de qualquer ciência, não podemos escolher as vantagens simultâneas de duas situações alternativas, e ainda por cima ignorar os custos respectivos.