Não chega expulsar Donald Trump. Nem bloquear contas, exigir a retirada de determinados conteúdos, apagar vídeos ou banir perfis, como Twitter, Facebook, Instagram e YouTube fizeram enquanto o terror ganhava forma no Capitólio.
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A invasão não foi apenas um ataque à democracia da América, nem uma tentativa de golpe de Estado. Foi a concretização inequívoca da manipulação da opinião pública através das redes sociais. Anteontem, foi nos EUA. Amanhã, pode ser em qualquer lado. Em Portugal também. Já estivemos mais longe......
A desinformação, os conteúdos falsos, a depreciação da Imprensa, a desvalorização da ciência, da política, dos políticos e o sensacionalismo são uma ameaça à democracia. Se ainda havia algumas dúvidas, a violação da América transmitida em direto dissipou-as.
O Mundo pós-Trump, pós-redes sociais, pós-pandemia é com toda a certeza um Mundo que irá inspirar alguns, mas envergonhar muitos mais.
A liberdade que a era digital nos concedeu, a possibilidade de qualquer cidadão poder expressar-se na Internet, a interação com os outros não podem ficar reféns de agências obscuras e de líderes sem escrúpulos e com agendas próprias de assalto ao poder.
Não há qualquer lado positivo na invasão do Capitólio. Não serve de alerta, nem de aviso. É apenas o resultado do "cozinhado online" que Trump foi mantendo em lume brando até começar a ferver.
É preciso legislar, transversalmente. É preciso que os políticos e os governos tenham coragem para punir em tempo útil. É preciso garantir equilíbrios. E pressionar ainda mais as empresas para apertar as regras e assumirem a sua parte neste descontrolo do uso abusivo das redes sociais.
A invasão do Capitólio não é só o culminar da era Trump na Casa Branca. É o resultado da ineficácia dos governos em proteger a democracia nesta realidade que vivemos.
Diretor-adjunto