Corpo do artigo
Henry Kissinger, figura grada da política norte-americana, fazia notar no início do novo milénio que os EUA eram a força motriz da globalização, sendo também o país que mais beneficiava desse fenómeno. Agora, em 2025, Donald Trump impõe barreiras alfandegárias, prometendo aprofundar ainda mais esse ensimesmamento comercial. No fundo, o presidente norte-americano está a dizer ao Mundo que a globalização já não beneficia o seu país. Há quem produza melhor e mais barato noutras geografias e contra factos só há mesmo um argumento: tarifas que obriguem os outros a pensar em investir de raiz nos EUA. A estratégia vai resultar? Só se for no médio ou longo prazos?
Uma das promessas de Trump consiste em baixar a inflação. Ora, enquanto os vários países eventualmente interessados em localizar a produção em território norte-americano não tomarem essa decisão, os preços só vão aumentar, tornando ainda mais dura a vida daqueles que elegeram Trump. O México é, desde 2023, o principal parceiro comercial dos EUA, ultrapassando a China, que ainda se mantém em segundo. Segue-se o Canadá, a Alemanha, o Japão, o Vietname, a Coreia do Sul, Taiwan, Irlanda, Índia, Itália e Reino Unido. É curioso que a China só foi penalizada com uma tarifa de 10%, talvez porque o potencial inflacionista de uma barreira comercial maior contra Pequim se viraria contra os norte-americanos.
Há sempre uma solução: aumentar os salários para cobrir o aumento do custo de vida, mas isso cria o risco de uma espiral inflacionista que pode revelar-se catastrófica, até porque ninguém toma decisões de investir noutro país, para fugir a tarifas ou por outro motivo, de um dia para o outro.