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É uma entrevista incrível a que o presidente dos EUA concedeu à revista “The Atlantic”. Por vários motivos: porque Trump fez questão de a pré-anunciar de modo peculiar na sua rede social Truth Social; porque se dobrou deliberadamente às perguntas de jornalistas que sempre criticou de forma musculada; e porque falou de tudo. Da Ucrânia ao Canadá e também da necessidade de um lustre de cristal para a Sala Oval.
Foi um Donald Trump bem-humorado aquele que recebeu os entrevistadores de uma publicação que sempre lhe foi adversa. Antes tinha escrito na sua rede social o seguinte: “Acreditem ou não, vou encontrar-me hoje com Jeffrey Goldberg, o chefe de redação da revista 'The Atlantic', aquele que tantas ficções escreveu sobre mim”. O presidente dos EUA tinha presente que fora Goldberg o responsável pela denúncia das mensagens partilhadas por altos funcionários da Administração norte-americano na aplicação Signal, através das quais se discutiam pormenores de uma operação militar no Iémen. O jornalista tinha sido adicionado inadvertidamente ao grupo pelo conselheiro de segurança nacional Mike Waltz. E aproveitou a falha para expor uma política desenhada em bastidores escondidos do debate (inter)nacional. O assunto esteve presente nesta conversa. Trump procurou poupar os envolvidos, não negou as mensagens, assegurou nunca ter usado essa aplicação e ter aconselhado quem com ele trabalhar a seguir o mesmo procedimento. E passou à frente com o argumento de que direta ou indiretamente contrata mais de dez mil pessoas. E, por vezes, nem tudo corre bem.
Quanto aos propósitos do segundo mandato, o presidente norte-americano disse que trabalha para “para o bem do país e da humanidade”. E para solucionar os problemas mundiais. Por exemplo, terminar com a guerra na Ucrânia. Nas suas palavras, é nele que o presidente da Noruega ou o presidente da NATO colocam a solução de um conflito que, assegurou, soma por semana mais de cinco mil mortos entre civis e militares. De ambos os lados.
Falou ainda do Canadá que quer ver anexado ao seu país. E falou também da Sala Oval. Das pinturas que reabilitou do acervo da Casa Branca, dos objetos que trouxe da sua casa de férias de Mar-a-Lago em Palm Beach e daquilo que poderá nela faltar. Por exemplo, um lustre em cristal que Trump diz que poderá vir da Rússia ou da China.
E eis como a estratégia geopolítica se mistura com a vertente do espetáculo, tal como se confundem os papéis de um presidente que ambiciona ser o centro do Mundo com os de um curador. Para ampliar tudo isso, conta com as redes sociais, sem descuidar o discurso jornalístico.