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1. A agenda de Trump nos EUA está a promover, para além do imaginável há poucos meses, políticas radicais de censura e cancelamento. É um radicalismo reacionário no sentido literal da palavra, pois o que está em causa é a reintrodução de normas antigas que suportavam todo o tipo de discriminação, em função do sexo, da cor da pele ou da deficiência. Um dos alvos desta agenda são as práticas de diversidade, equidade e inclusão, em inglês conhecidas pela sigla DEI. Práticas de promoção da igualdade que podem passar pelo estabelecimento de medidas de discriminação positiva, eventualmente polémicas. Note-se, no entanto, que está em causa, na agenda de Trump não a contestação daquelas medidas, mas os princípios mesmo de antidiscriminação que as sustentam. Em alguns casos com consequências anedóticas, como quando as fotos do avião que largou a primeira bomba atómica sobre Hiroxima foi apagada por este se chamar Enola Gay. Na maior parte dos casos, porém, com consequências dramáticas.
2. Governado e, abusivamente, legislando através de ordens executivas, Trump veria, em princípio, a sua agenda acantonada ao nível federal, devido à grande autonomia dos estados nos EUA, o que já não seria pouco. Porém, usando a chantagem, em especial a chantagem económica, Trump estendeu o seu poder a instituições públicas e privadas, empresariais ou universitárias. Como? Ameaçando, e concretizando as ameaças, cortar financiamentos às entidades que não revogassem as normas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) que tivessem aprovado para a sua regulação interna. Ou o abandono dessas normas ou o fim de subsídios ou contratos federais.
3. Não contente com o alargamento nacional do seu poder, Trump quer agora estendê-lo ao resto do Mundo. Empresas europeias estão a receber cartas da Administração norte-americana exigindo o fim das normas DEI como condição para poderem fazer qualquer tipo de contrato com o governo federal americano. A chantagem como arma de imposição das normas de Trump chegou também às universidades estrangeiras. Em Portugal, pelo menos, as universidades com ações que envolvem programas federais norte-americanos já foram confrontados com a ameaça: ou declaram o abandono de qualquer tipo de norma de diversidade, equidade e inclusão ou deixam de beneficiar daqueles programas. No questionário que receberam nada falta. Nem a exigência macarthista de recusa de ideias comunistas!
4. O Mundo não pode aceitar este prolongamento do poder e da agenda de Trump para além das fronteiras dos EUA.