Se a memória não me falha, no "Terra imperial", do Arthur C. Clarke, os governantes eram escolhidos num sorteio por computador, a partir de um conjunto de pessoas com qualificações.
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O narrador dizia que os Humanos tinham demorado milhares de anos a perceber que havia funções públicas que nunca deviam ser exercidas por quem as quisesse, principalmente se demonstrassem muito entusiasmo. Quem melhor para exercer o poder do que quem não o pretende, nem precisa dele para nada?
"Terra imperial" é ficção científica e seguramente não é esse o método ideal para escolher quem nos lidera - a democracia vale a pena o risco de a colocarmos em risco -, mas há qualquer coisa de certo na ideia de que a ânsia de ter poder corrompe mais do que ser poderoso.
Quem escolheu Donald Trump, que quis ser presidente por vaidade, teve de volta o vazio intelectual autocentrado. Quem votou em Bolsonaro, que se candidatou por uma só razão (Bolsonaro), não se pode espantar que o presidente do Brasil só pense numa coisa (Bolsonaro). Ambos, e todos como eles, apenas veem o povo lá bem longe, desfocado no reflexo do espelho onde constantemente se olham.
*Jornalista