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O título surgiu-me da canção de Violeta Parra ("Todo Cambia") e da descida do Bonjardim. A pé, como fazia quase diariamente. A partir do Marquês, o Bonjardim fascinava-me, pela mistura do Porto oitocentista, popular e operário (no seu Bairro Alto), com a cidade burguesa, do comércio para todos e habitação para quem morava na Baixa. "Optimista melancólico", vinha expectante (não fazia este passeio desde antes da pandemia) sobre mudanças e alterações naquele tecido antigo. É evidente a reabilitação de muito edificado e a transformação (para melhor, acrescentando um andar) das belas moradias setecentistas do Bonjardim (das cancelinhas verdes). E o grande jardim vertical que salvou a horrorosa parede dos Correios, na Rua do Estêvão, entusiasmou-me. Além de outras intervenções nas arquitecturas.
A surpresa foi a implosão comercial em curso, patente no encerramento de lojas, cafés, casas de comer. Uma tristeza (como a Viela do Anjo da Guarda, definitivamente perdida). Até a Adega do Parque (de estacionamento e não de árvores), que fabricava as melhoras iscas do Porto, está tapada com tijolos.
O que se passa em alguns locais que não conseguem "arrancar comercialmente", parece-me um "prenúncio da morte" do antigo comércio, que a dinâmica de umas quantas ruas reanimadas pelo turismo, não consegue compensar. Para não ficar completamente desanimado com os efeitos colaterais dos arrendamentos e da pressão do "boom" requalificador, e não sair deprimido do Bonjardim, fui à Conga e comi duas bifanas. As melhores do Burgo. Imbatíveis. Espero que um dia destes não amanheça encerrada.
* Professor e escritor
O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA