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Mês de férias para a maioria de nós, agosto pode ser uma tormenta para populações de lugares muito pressionados pelo turismo. Em várias geografias, assistimos à multiplicação de protestos por parte de moradores para quem os visitantes são um verdadeiro inferno. Mas o turismo é também a base da economia. Estes dois lados não são fáceis de compatibilizar.
Segundo dados do INE divulgados ontem, em Portugal o turismo contribuiu com quase metade do crescimento real do PIB em 2023, aumentando, em termos nominais, 15,2% face a 2022 e 33,1% face a 2019 (pré-pandemia). Trata-se indubitavelmente de um setor estruturante da nossa economia. Se quisermos fazer uma comparação internacional (apenas possível se tivermos como referência 2022), o nosso país foi o segundo país europeu que “registou maior importância relativa de procura turística no PIB”. Em primeiro lugar, ficou a Islândia; em terceiro lugar, a Espanha.
No entanto, o turismo em massa tem também enormes efeitos nocivos, nomeadamente para as populações locais. Dois exemplos. Veneza tem cerca de 50 mil habitantes, mas recebe todos os anos mais de 20 milhões de pessoas. Hallstatt, a aldeia conto de fadas dos Alpes austríacos, soma 800 habitantes, mas confronta-se todos os dias com 10 mil visitantes. Como já noticiou este jornal, a partir deste mês, a cidade italiana vai limitar a 25 pessoas os grupos de turistas que se passeiam no centro de Veneza. Também serão proibidos os altifalantes. Em Hallstatt, no ano passado, a população ergueu uma cerca de madeira para impedir que os turistas tirassem fotografias com enquadramentos idílicos. O presidente da câmara tem reiteradamente afirmado que é necessário lembrar a quem por aí passa que muitos têm nesse lugar a sua casa permanente. E que precisam de recato. É essa a mensagem que tem ecoado nas ruas de Málaga, de Barcelona, de Ibiza ou de Palma de Maiorca. No entanto, há exemplos de práticas bem-sucedidas em conciliar ambos os lados.
Recentemente, uma reportagem publicada no jornal “El Colombiano” dava conta daquilo que se tem feito em Antioquia, uma região situada no Noroeste da Colômbia, que acolhe o rio Melcocho, cujas águas cristalinas são muito cobiçadas pelos turistas. Depois de muitas reuniões, a população local conseguiu regulamentar o acesso a quem visita esta singular reserva de biodiversidade da região. Tal como alguns parques nacionais, o local também fecha uma semana em cada dois meses para que o rio e a floresta possam regenerar-se.
É certo que o turismo não vai desacelerar, mas isso ainda torna mais urgentes medidas que protejam os lugares mais atrativos e quem neles habita.