Corpo do artigo
Os números do INE dizem que o turismo trouxe a Portugal mais de 30 milhões de visitantes em 2023, representou 9,5% do PIB e 20% do total de exportações. Além da procura ter sido a maior de sempre, o setor cresceu em valor, ao melhorar em cerca de 9% o rendimento médio por quarto ocupado. Ainda assim, a avaliar pela recente vaga de críticas, há quem só veja “externalidades negativas” numa atividade que, ao longo dos anos, tem sido das mais dinâmicas e resilientes da nossa economia.
Este clamor mediático foi suscitado pelas iniciativas que os municípios de Porto e Lisboa encetaram na regulação dos transportes turísticos. Se a ação das autarquias é compreensível, na medida em que devem acionar os meios políticos disponíveis para melhor gerir os respetivos territórios, já as perspetivas mais cáusticas que decorreram desse facto são perfeitamente extemporâneas e importam para Portugal as campanhas de hostilização aos visitantes que se veem noutros destinos - em Barcelona, há anos que as paredes da cidade estão pichadas com a simpática e acolhedora mensagem “tourists go home”.
Esta espécie de turismofobia à portuguesa é bastante irracional, na medida em que se baseia mais em perceções do que em factos e ignora um conjunto de benefícios que esta atividade trouxe aos centros urbanos das grandes, médias e até pequenas cidades do nosso território. A título de exemplo, só nos últimos cinco anos o Centro Histórico do Porto registou perto de 600 milhões de euros de investimento na reabilitação de património. Investimento, esse, que dificilmente existiria se não fosse a perspetiva de os proprietários rentabilizarem os seus imóveis. A isso, acresce uma vitalidade comercial, hoteleira e até cultural que a Baixa portuense não dispunha há pouco mais de uma década, contribuindo para a sustentabilidade de muitos pequenos negócios.
Se é pacífico dizer que o turismo não traz apenas impactos sociais positivos - como qualquer atividade económica, de resto - devia ser incontroverso defender que, até ao momento, eles foram muito maiores e duradouros do que os efeitos contrários. Era nisso que devíamos focar o debate e não em desmerecer aquilo que temos sido bons a fazer.