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Foi finalmente inaugurado o Grande Museu Egípcio, no planalto de Gizé, lugar mágico onde vivem as três grandes pirâmides mais a Grande Esfinge e uma enorme quantidade de templos e cultos de morte. Custou mil milhões de euros e tem um espólio de mais de 100 mil objetos. É um dos acontecimentos culturais do ano e, pela primeira vez desde 1922, todos os objetos encontrados no túmulo de Tutankamon podem ser vistos. Estiveram mais de cem anos guardados - desde que o arqueólogo Howard Carter os descobriu no Vale dos Reis. Uma das maiores descobertas da história, nunca nada se assemelhara ao fausto do jovem faraó, uma espécie de Sebastião dos egípcios, inexpressivo na sua influência, mas icónico e imortal na sua simbologia. Imaginei tantas vezes Tutankamon. Imaginei-o como símbolo de um poder absoluto, a imagem de Rá entre os homens, uma cabeça de falcão rodeada por uma serpente enrolada, uma criança divina e implacável nos seus traços e olhar. Imaginei Tutankamon por dentro da máscara mortuária de ouro maciço que reconhecemos dos livros. Também a máscara pode ser vista, ela e a verdadeira cara que tanto fiz por imaginar. Afinal, não passava de um rapaz. Um menino igual a tantos outros, um adolescente franzino, de cara comprida, frágil e enfezada, que não fez nada para ser o símbolo máximo de um mundo que nos transcendia. Somos estes, sempre o fomos. Seres a farejar loucamente por uma hipótese de sentido. Interessa pouco quem foi o jovem Tutankamon, mas interessa muito o que nos fez sonhar e ambicionar.

