A invasão da Rússia à Ucrânia está quase a cumprir um ano e, não havendo razão para celebrar, há muito para recordar.
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Desde logo, as vítimas: as dezenas de milhares de mortos da guerra, sejam civis ou soldados (incluindo os ucranianos do Donbass e os russos usados pelo regime russo como carne para canhão), os milhões de refugiados, sobretudo crianças e mulheres que fugiram de suas casas e se espalharam por toda a Europa.
É preciso recordar Bucha e outros massacres indiscriminados de civis, por parte dos militares russos. É preciso recordar os bombardeamentos de prédios de habitação, de hospitais e maternidades, de escolas e jardins de infância, incluindo os que são feitos pelos ucranianos para o lado russo da linha da frente. É preciso recordar o rapto organizado de crianças ucranianas nos territórios ocupados, levadas para centros de reeducação na Rússia.
É preciso recordar os resistentes, esses bravos ucranianos, homens e mulheres, que, de um dia para o outro, trocaram as suas vidas normais pelas trincheiras, pelo fogo e pelo sangue. E recordar Zelensky, o líder de uma democracia imperfeita, é certo, mas um homem que escolheu resistir quando era aceitável que fugisse.
E, finalmente, recordar os carrascos: neofascistas, nacionalistas, xenófobos, homofóbicos e misóginos que controlam um regime imperialista. E, no topo da pirâmide, recordar a sinistra figura que se esconde no Kremlin, que vive num universo paralelo e tem a capacidade de arrastar milhões dos seus compatriotas no apoio à sua distorcida mundivisão.
Um homem perigoso, pelo poder que foi capaz de construir entre uma elite de oligarcas e gente do aparelho administrativo e militar, reproduzindo a organização opressiva dos apparatchiks do tempo soviético. Um autocrata que moldou a Constituição de forma a eternizar-se no poder, que institucionalizou a censura e perseguição política e que tem ao seu dispor um arsenal nuclear. Também isto é preciso recordar. Não para congelar perante o risco de uma catástrofe, mas para, tendo consciência desse risco, nos recordarmos das tantas razões pelas quais Vladimir Putin tem de ser derrotado.
*Diretor-adjunto