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Calhou-me escrever a 24 e agora cá estamos a 31. No fim de mais um ano. Inevitável olhar para trás e tentar dar algum sentido a tudo o que se passou. Mas o que me sai, de roldão, genuíno e sentido é isto: Uff!
Uff! Numa espécie de alívio por sairmos de um ano que foi pesado e cansativo.
Primeiro saiu a troika, mas a saída limpa que nos anunciaram não pôde ser o alijar da carga que prometia porque estávamos de rastos pela sova imposta e porque, afinal, algum lixo tinha apenas sido varrido para debaixo do tapete.
Depois caiu o BES e agora o Banif. E mais uma vez o cansaço de tentarmos perceber e a inutilidade de tentarmos compreender.
Pelo meio, uma reviravolta "coligacional" que nos manteve de respiração suspensa até o presidente da República ter percebido que já estávamos todos a ficar mais do que roxos.
E já nos pedem forças para imaginar as consequências da resolução final do Novo Banco e do BANIF, da reversão da venda da TAP ou mesmo da inevitável triangulação do poder que se fará "imperativamente" a partir de Belém já a 24 de janeiro.
E reparem que não falei do terrorismo internacional, das eleições americanas, do preço do petróleo ou do plano Junker. Devemos estar tão cansados que estas coisas nos parecem longínquas e fora do nosso alcance. O que é mau e, talvez, perigoso.
Mas como ter disposição para ir tão longe se 77,9% dos pensionistas de velhice em Portugal têm uma pensão inferior ao salário mínimo, se 44% da população desempregada já o é há mais de 2 anos, se 64,8% dos trabalhadores por conta própria não têm o ensino secundário completo, se apenas 43,3% da população entre os 25 e os 64 anos tem o ensino secundário completo, se a taxa de risco de pobreza após transferências sociais é ainda de 19,5%, se , se, se...
Também há alguns números positivos, mas são poucos e frágeis.
Por isso, Portugueses, não há outra certeza nem outro desejo para 2016: respirar fundo e trabalhar, muito, para além das nossas forças mais imediatas e para além do tempo do calendário.
Trabalhar, mas mantendo o espírito alerta. Porque o maior perigo está em perceber que, como dizia o saudoso Millôr Fernandes,"quando a gente está cansado, dá uma bruta vontade de dizer que sim!".
Feliz Ano Novo!
*Analista financeira