As comemorações do 10 de junho deste ano começaram mais cedo, na África do Sul, mas por cá quase não demos conta. Por vários motivos: porque a coabitação Belém/S. Bento está desavinda; porque o modelo precisa de ser renovado; e porque, decerto também pela distância, os média não se mostraram muito interessados na cobertura noticiosa. Amanhã, em Peso da Régua, será difícil reabilitar a força que esta data ganhou em 2016, aquando das comemorações em Lisboa e Paris.
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Os episódios até poderiam ser encarados como fait-divers, mas, tendo em conta os envolvidos, nada se diz por acaso. No palco da União Cultural, Recreativa e Desportiva Portuguesa de Joanesburgo, o presidente da República garantiu que ninguém ali ficaria sem uma selfie e que, nesse trabalho, seria coadjuvado pelo primeiro-ministro, dividindo-se cada um por áreas distintas: "Ele (Costa) começa pela esquerda, o que é natural; eu pela direita". A metáfora não poderia ser mais significativa. O dia guardaria outras oportunidades. Na Universidade Witwatersrand, perante uma plateia de estudantes, Marcelo lembrou que Costa havia sido seu aluno, tendo conquistado 17 valores, embora estudasse pouco por estar já muito envolvido na política. Ao seu lado, o PM gesticulou freneticamente que não e, quando Marcelo lhe passou a palavra para responder a uma pergunta, Costa recusou responder com um irónico sorriso: "não estudei", atirou. Os recados foram bem entendidos por quem segue os meandros desta coabitação.
Amanhã, no Douro, PR e PM ensaiarão em público uma proximidade que teve, nas últimas semanas, um sério revés. E isso nota-se. Em ambos. Hoje, estamos muito longe do "Dupond et Dupont" que se abrigavam debaixo do mesmo guarda-chuva na festa popular da Rádio Alpha, em Creteil, arredores de Paris, em junho de 2016. Cada um tenta recuperar, como pode, o seu espaço, estando bem consciente de que a cooperação deixou de existir.
Até domingo, Marcelo procurará capitalizar mais a visibilidade que estas comemorações lhe asseguram. Na África do Sul foi Costa que dominou esse espaço. Antes de visitar Joanesburgo e Pretória, o PM esteve em Angola e multiplicou imagens dessas deslocações no Twitter, gerindo com alguma perícia as declarações aos jornalistas. Sem presença nas redes sociais, o presidente da República apenas tem umas escassas fotografias desta deslocação no seu site oficial, estando por atualizar a agenda e o espaço dedicado ao Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Ao rever a sua estratégia para o universo digital, Marcelo Rebelo de Sousa poderia aproveitar e ajustar o modelo de comemorações desta data. Está ultrapassado.
Prof. Associada com Agregação da UMinho