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1. Primeiro era o Éden. Fazer sem custos. Só a direita de vistas curtas não via além. Em 24 de maio de 2001 debateram-se as Scut no Parlamento. António Costa ocupava a pasta da Justiça e o ministro da Presidência, esforçando-se por demonstrar o milagre da multiplicação dos recursos que se julgavam escassos, dizia assim:
"Decidiu-se (...) lançar um conjunto de autoestradas sem cobrança ao utilizador (Scut), cujos encargos são absolutamente comportáveis nos orçamentos do setor. Não se trata, pois, de sacrificar as gerações futuras, mas sim de as beneficiar, com a assunção, no tempo próprio, de responsabilidades e da satisfação das necessidades das populações".
2. Os anos passaram e a fantasia chocou de frente com a realidade. As Scut - não foi por falta de aviso da direita que tem essa particularidade maçadora de insistir fazer contas - revelaram-se um desastre financeiro. O custo que os utilizadores não sofreriam, mede-se agora à passagem em cada pórtico. E há meses soube-se que os encargos com as PPP rodoviárias aumentaram 45%, apesar das portagens que nunca aconteceriam.
3. Desastre financeiro? Prejuízos? Não importa nada. Prometa-se "a metro" que as eleições estão à porta.
Há 24 horas foi notícia que o PS admite estudar a possibilidade das portagens pagas na rede viária servirem para financiar a Segurança Social. António Costa admitiu tratar-se de "uma questão interessante". Tão interessante como, provavelmente, não se ter apercebido instantaneamente do alcance surrealista da declaração.
4. António Costa não recordará. Mas em 10 de julho, não faz dois meses, anunciou em entrevista à TVI a intenção de rever as portagens na Via do Infante. Uma coisa e o seu contrário, mesmo em quem se disponha prometer tudo a todos, a pensar nuns tantos votos, simplesmente não pode ser.
5. Acresce a vontade anunciada em 20 de fevereiro, do PS reduzir a TSU dos trabalhadores e transferir 10 % do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, para obras de reabilitação urbana na área social.
Tudo sopesado, num ciclo que ilustra o perfeito absurdo, com António Costa seria assim:
Portagens que não existiriam, mas afinal se cobram, em valor apesar de tudo insuficiente para pagar o desastre financeiro de uma promessa rodoviária socialista, capitalizarão a Segurança Social já de si deficitária, à qual não obstante se amputarão receitas da TSU e se retirarão 1,4 mil milhões de euros, para utilização em obras de reabilitação urbana com prejuízo garantido. Nem com a Gebalis o secretário-geral do PS aprendeu qualquer coisinha.
Imagine-se agora que governavam a sério?