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Urbanista e académico de excelência, Nuno Portas era muitas vezes desconcertante. Fazia a diferença, porque obrigava a refletir naquilo que dizia e fazia, pelo brilhantismo e disrupção, às vezes associados a um comportamento adoravelmente irreverente.
Ganhou prémios e teve uma carreira notável. Arquiteto de formação, gostava de geógrafos e entendia o território como muito mais do que a envolvente do objeto arquitetónico. Foi político, com o Partido Socialista, assim marcando a vida de muitas mais pessoas que colegas e alunos. As suas soluções que foram inovadoras, eficientes e eficazes, seja no Governo central, com o SAAL (habitação construída com os moradores) e a diminuição da altura mínima dos pavimentos, seja na Câmara de Gaia, com a criação de núcleos descentralizados de gestão urbanística e a visão de um novo centro, na Arrábida Sul.
Quero também testemunhar a nossa amizade, tardia, boa e bem-disposta, e a aprendizagem que fiz, por exemplo, a propósito dos centros comerciais, como praças da periferia, e da cidade não canónica (periférica, periurbana, ou não tradicional) e da importância de a valorizar.
Ah, amigo, e nunca esquecerei que foi tua a melhor conferência a que assisti entre tantas e tantas: sobre urbanismo, no piso 3 da torre B da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Descansa. Mas olha que não morreste. Os que lá estiveram, os que habitam bairros SAAL, os que leem os teus livros e os que andaram contigo vão manter-te vivo.