Entre as graças que devemos à bondade divina, a música estará certamente entre as maiores. Deixem-me, pois, pôr um acorde nestes dias de chumbo. Madalena Sá e Costa, a mais virtuosa e consagrada violoncelista portuguesa, completa hoje 99 anos!
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Entre família e amigos, no Largo da Paz, Porto, onde reside desde a infância, Madalena há de voltar a falar do prazer de aprender e da alegria de transmitir e ensinar. E mesmo que não abrace e faça chorar a arcada do seu instrumento, ouvi-la-emos tocar, mais uma vez, a melodia dos seus ainda mil projetos, arrebatada, como se estivesse, sempre e sempre, de regresso à sonoridade dos palcos da música que acrescentou ao nosso mundo.
Mais adiante, nas nossas páginas, evocamos a discípula de Guilhermina Suggia e, sobretudo, a herdeira de uma linhagem de três gerações de grandes músicos e pedagogos, onde avultam os nomes de seu avô Moreira de Sá, de seus pais, Leonilda e Luiz Costa, e também o de sua irmã Helena Sá e Costa.
Quantos concertos lhe devemos! - do Orfeão Portuense ao Círculo de Cultura Musical, da Pró-Arte à Juventude Musical, da Orquestra da Emissora Nacional à Gulbenkian e, claro, da rádio à televisão -, em Portugal e no estrangeiro.
Madalena Sá e Costa fez da música a sua forma de expressão, abrindo caminho para a presença feminina num mundo onde, quando ela e a irmã começaram, as mulheres quase não tinham palco.
Feliz de quem atravessa uma vida inteira com mil razões para viver. Parabéns, pois, Madalena, por estes 99 anos prodigiosos de vida! Hoje, é em nós que amanhece o som dolente do seu violoncelo.