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Foi a 7 de outubro de 2023 que se registou um terrível massacre em solo israelita perpetrado pelo Hamas. Um ano depois, como escrevia ontem Robert D. Kaplan na revista “The NewStatesman”, este ataque “desencadeou uma cadeia de acontecimentos que décadas anteriores juntas não provocaram. O ritmo da História é agora furioso”.
Os média noticiosos internacionais fazem, por estes dias, um balanço daquilo que designam como uma guerra sem fim. “Somos todos testemunhas de um massacre que ninguém consegue parar”, lia-se ontem na revista “Le Nouvel OBS” onde se publicava um conjunto de textos jornalísticos bastante impressivos sobre o tema. Um deles destacava um voo que retirou crianças de Gaza para hospitais de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Nessa viagem acompanhada pelos jornalistas Paul Boyer e Sadak Souici, iam Maissa, de 14 anos, e Malak, de 11 anos, as duas únicas sobreviventes de um ataque à sua escola que vitimou 12 colegas. Ali. Diante destas meninas marcadas para sempre por um inenarrável pavor. Falamos aqui de feridos de passagem por determinados territórios que lhes servem temporariamente de abrigo humanitário, mas que não lhes reconhecem o estatuto de refugiados.
Numa guerra que Israel trava em múltiplas frentes (em Gaza, no Líbano e cada vez mais na Cisjordânia), há quem avance que nunca poderá haver paz enquanto não se provocar uma mudança de regime no interior do Irão, um país com 88,5 milhões de habitantes que é hoje a chave desta guerra regional. Rico em energia, este país é central no fornecimento de dinheiro e no treino militar que transformaram o Hamas e o Hezbollah naquilo que hoje são, espelhando em cada elemento impressões digitais do regime iraniano, que hoje apresenta vários centros de poder impermeáveis a intervenientes externos.
Claro que outro dos polos estruturantes para pensar esta guerra é Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel com um obsessivo apego ao poder, promotor de alianças complexas com forças políticas extremistas e a braços com acusações de corrupção, fraude e abuso de poder. O que torna tudo muito mais explosivo. Num dossier especial sobre este primeiro ano de guerra, a revista “Courrier International” ouve várias personalidades. Uma delas é o pensador Yuval Noah Harari para quem o nacionalismo religioso que hoje está no poder em Israel constitui o real perigo que pesa sobre o princípio da autodeterminação do povo judeu.
Sem fim à vista, esta guerra conta já 41 mil mortos. Em apenas um ano. E é neste futuro incerto, em que a maior parte daquilo que aconteceu está no domínio do indizível, que se torna vital descobrir plataformas que travem este horror.