<p>1. Duas deputadas do PS acham que os portugueses [mandriões] têm feriados e pontes a mais. Testemunharam o exemplo dos deputados com quem dividem a intensa semana de trabalho, algures entre segunda-feira à tarde e sexta-feira de manhã [se não houver contactos com os eleitores, caso em que o parlamentar chega à terça-feira e parte à quinta-feira], e apresentaram a proposta: acabar com quatro feriados, criar um novo, juntar feriados rebeldes de meio de semana às sextas-feiras e às segundas-feiras. De imediato se levantou um coro de mal dizentes, cristãos-novos da Democracia (25 de Abril), sindicalistas preguiçosos (1 de Maio), saudosistas centenários da Primeira República (5 de Outubro) e anti-iberistas adeptos da Restauração (1 de Dezembro), como se fosse um sacrilégio mexer em datas irrelevantes da História de Portugal. O que vale é que temos um deputado que, apesar de ter às costas um processo por andar a confiscar gravadores a jornalistas [e eu, que já li notícias de gente condenada por confiscar pacotes de arroz em hipermercados para matar a fome, estou curioso para ver que pena lhe vão os tribunais aplicar], ou talvez por isso mesmo, não tem pruridos em aplicar algum relativismo às datas chave da Nação: no caso do 25 de Abril, explica ele, o que interessa é comemorar a Liberdade, ainda que a 27 de Abril. Como se costuma dizer, Natal, como a Liberdade, é quando um homem quiser… ou talvez não... Segundo as mesmas deputadas, o menino Jesus nasceu mesmo a 25 de Dezembro, ainda que a Igreja assuma que não. Aliás, e só por causa da teimosia, tomem lá mais um feriado a 26 de Dezembro, que passa a ser Dia da Família, obviamente Católica, Apostólica e Romana. E já agora, se 27 de Dezembro calhar a uma sexta-feira, está garantida a tolerância de ponto.</p>
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2. Seja feriado ou dia santo, a 1 de Julho paga-se portagem nas três SCUT do Norte. Numa fase inicial, o Governo tinha anunciado aplicar uma taxa de 8 cêntimos por cada quilómetro de auto-estrada percorrida. Entretanto, feitas as contas, percebeu-se que só mesmo em duas pequenas ligações o automobilista pagará essa pechincha. E em pelo menos dois casos, na Maia e em Matosinhos, vai pagar quase o triplo do preço que vigora para o resto do país: 22 cêntimos por quilómetro. Aqui há dias, explicou-nos um iluminado do Ministério das Obras Públicas que, sendo verdadeira essa história dos 22 cêntimos por quilómetro, o mesmo automobilista poderia, se quisesse, andar mais uns quilómetros, sem pagar mais por isso. Comecei de imediato a imaginar os matosinhenses e maiatos [os tais que vão pagar 22 cêntimos], à hora de ponta, percorrendo mais dois ou três quilómetros do que o necessário, só pelo prazer de consumir alcatrão de borla.
3. Perdi alguns tempo a pensar o que dizer sobre José Saramago. Mas comecei a ler o que outros escreveram e percebi que os adjectivos estavam gastos. Decidi concentrar-me em dois pontos: primeiro, dizer que há os livros de Eça de Queiroz, que há "Guerra e paz" (Leon Tolstoi), que há "Cem anos de solidão" (Gabriel Garcia Marquez) e que há os livros de José Saramago; segundo, que ainda um dia hei-de ir à Azinhaga do Ribatejo, ao cruzamento da Rua José Saramago com a Rua Pilar del Rio, só para dar um beijo à mulher amada.