Há leitores sem papas na língua: "Deixe lá a macroeconomia - já está tudo dito. É deprimente. Fale mas é da Região. Ou também já não vale a pena?". Uma boa deixa, numa altura em que as declarações sobre a eventual bancarrota grega, conjugada com a crise das autonomias espanholas, lançam o pânico nos mercados, reforçando a dúvida sobre o futuro da Zona Euro e evidenciando a incapacidade dos políticos europeus para tomarem decisões cujos efeitos perdurem por mais de 15 dias.
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No meio de todas estas turbulências como vai o Norte? Depende. Falamos de quê quando falamos do Norte? Da política, da economia ou da dimensão social? Não há um Norte único, há vários Nortes.
Politicamente, arrisco dizer, o Norte, enquanto região, atingiu o grau zero. Na falta de um plano agregador, as dificuldades levam cada um a puxar para o seu lado, preocupados apenas com o seu quintal. Nem projectos críticos, como o porto de Leixões ou o aeroporto Sá Carneiro, motivam tomadas de posição, exceptuando a Associação Comercial do Porto. Quando muito, responde-se aos jornalistas.
O apagamento da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) ajuda à letargia. Em termos algo simplistas, as CCDR podem aspirar a ter um estatuto afim de uma secretaria de Estado ou, em alternativa, de uma direcção-geral. Ambicionar a um papel na coordenação e no desenvolvimento regional ou limitar-se a ser um depositário de orientações políticas ditadas de cima. No Norte, a composição da direcção da CCDRN fazia antever o segundo cenário. Reconhecia-se-lhes competência e capacidade de execução. O resto era uma incógnita. Antecipei que esse perfil lhes podia conferir a capacidade de identificar e filiar interesses comuns, sem que se levantassem suspeitas de que houvesse segundas intenções políticas. Lograr surpreender. Conferir ao Norte um protagonismo colectivo que esvaziasse as contradições suscitadas por lideranças associadas a projectos políticos pessoais e/ou locais.
Como se costuma dizer, o silêncio da CCDRN começa a ser ensurdecedor. Terão trabalhado muito, e não duvido que bem, na reconfiguração do QREN. Quanto ao respectivo fio condutor, prioridades, expressão sectorial ou territorial, para além de declarações genéricas do secretário de Estado, nada se sabe. Coordenação e desenvolvimento regional constam da designação. Talvez a coordenação esteja a ser feita. Para que plano de desenvolvimento regional? Uma incógnita, já que também não se conhece uma ideia sobre o assunto ao Governo. E um desperdício, mesmo do ponto de vista do Executivo. O resultado está à vista: cada ministério, dentro das suas competências, vai cumprindo o caderno de encargos que o Ministério das Finanças lhes distribuiu. Dou de barato que o façam bem. O problema está quando se conjugam as, chamemos-lhe assim, diversas soluções. Como este jornal evidenciava, o encerramento de escolas, tribunais, centros de saúde, repartições de finanças, postos de GNR e muitos outros serviços públicos, estruturam um país no qual, pelo menos ao nível do discurso, ninguém se reconhece. Entidades mais próximas dos problemas locais, mas simultaneamente com uma visão integrada, acima das lógicas paroquiais, as CCDR deveriam ter um papel, e ser uma voz, na apresentação de propostas alternativas que fizessem jus à referência ao "desenvolvimento regional" que consta da sua designação. No curto prazo, talvez fossem algo mais caras. E aí está o problema.
Mesmo que, a médio prazo, fossem compensatórias, nem o Executivo nem a Administração Central querem ouvir falar dessa redução de poupança: dá-lhes cabo do orçamento e obrigá-los-ia a cortar em organismos que estão mais perto deles, com quem convivem quotidianamente e não apenas quando, em visitas de circunstância, descem ao povoado. Uma dor de cabeça. Uma boa dor de cabeça: se as CCDR se fizessem porta-vozes do sentir das regiões e gentes desfavorecidas, contribuiriam para uma reforma do Estado que aspirasse a torná-lo amigo do desenvolvimento e não fosse apenas menos do mesmo. Uma nobre causa. E o Norte? Apenas o pretexto.