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Tempos houve em que, governando, os socialistas diziam haver vida para além do défice. Mostrando que falavam a sério, gastaram quanto puderam e no final de 2010 deixaram para memória e sacrifício coletivo o mais alto valor da nossa democracia - superior a 11% do PIB - logo depois de terem dito em 2008, como repetem em 2017, terem alcançado o défice mais baixo desde 1974.
A grande diferença, mesmo assim, é que aqui chegados, parece que já não há vida para além do défice. Compreende-se, quando praticamente tudo o resto mostra resultados sofríveis. Mais relevante, contudo, será a forma como 2,1 % foram alcançados em 2016.
António Costa perdeu as eleições e ascendeu singularmente ao poder, a prometer que baixaria impostos, reforçaria os serviços públicos - só possível com maior despesa - e realizando investimentos que o PCP e o BE impunham, como contrapartida do apoio parlamentar.
Mas se há conclusão nítida, é que o PS governa fazendo o contrário e concretizando muito do que criticava ao PSD e ao CDS, sujeitos aos ditames da troika.
O Governo aumentou brutalmente os impostos indiretos. E como o Conselho de Finanças Públicas, organismo independente criado há anos por iniciativa do PS explica, mais de 83% da redução do défice aconteceu por via da quebra da despesa, que caiu 3319 milhões de euros, bem mais do que a redução de 950 milhões de euros inicialmente estimada no Orçamento do Estado de 2016.
Traduzindo, das escolas aos hospitais, o Governo não paga a ninguém. Em representação de um Estado que é suposto ser pessoa de bem, não faz cortes como antes criticava. Dá calotes. Cativa o que depois não gasta e não paga o que entretanto comprou. Os resultados, diz, são fantásticos.
O Conselho demonstra também que o que a receita cresceu em 2016 "foi integralmente sustentado pelo aumento dos impostos indiretos". Ou seja, os portugueses, indistintamente, pagaram muito mais. Mas não notam. E ao que parece, avaliado pela bondade das sondagens, bastantes até agradecem.
Se Magaret Thatcher teorizava que o socialismo é muito bom até se acabar o dinheiro dos outros, os socialistas portugueses inovaram conceptualmente, levando a estratégia a um patamar superior. Acabado o dinheiro dos outros, traduzido nos impostos que pagam promessas, continuar a prometer e fazer não pagando também pode ser, porque ao que parece faz bem ao défice.
Não admira que ande por aí uma peregrinação de estrangeiros de Esquerda empenhados no estudo sobre a criação da "geringonça".
* DEPUTADO EUROPEU