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Omnipresente na nossa vida, a tecnologia invade já o nosso corpo e a nossa mente. O anúncio de que uma startup de Elon Musk implantou com sucesso um microchip no cérebro de uma pessoa - o que já nem sequer é inédito - abre perspetivas muito promissoras para portadores de problemas motores, mas suscita também novos desafios ético-legais que exigem uma regulação global urgente.
Como seria de esperar, a informação foi lançada na rede X (antigo Twitter) pelo multimilionário, sem grandes pormenores ou verificação independente. Disse apenas que o paciente está a recuperar bem após a cirurgia realizada no domingo e que os resultados iniciais mostram “uma atividade cerebral promissora”. E da divulgação do que parece ser um relevante marco da neurotecnologia passou rapidamente para a promoção comercial do primeiro produto da Neuralink, batizado com o apelativo nome de “Telepathy” (telepatia), que permitirá “controlar o telefone ou computador e, através deles, quase todos os dispositivos, apenas com o pensamento”. E a quem se destina? “Os primeiros utilizadores serão aqueles que perderam o uso dos seus membros”, responde o controverso empreendedor.
Se a implantação de chips nas mãos que substituem cartões de identidade, de crédito ou de transporte já começa a vulgarizar-se em países como a Suécia, por exemplo, a investigação sobre o interface entre cérebro e dispositivos eletrónicos para tratar patologias neurológicas ainda está numa fase experimental. Mas já há casos de doentes que sofriam de paralisia e que recuperaram a mobilidade após receberem um implante cerebral.
Atenta a esta incursão tecnológica na mente humana, a ONU está a preparar um “quadro ético” mundial para proteger a Humanidade dos potenciais abusos da neurotecnologia, que poderão escalar com os avanços da inteligência artificial. Entre os riscos estão a “neurovigilância”, a violação da “privacidade mental” , a “reeducação forçada”, abrindo caminho a novas formas de exploração e controlo, considera Gabriela Ramos, diretora-geral-adjunta da UNESCO. E tudo isto está a acontecer agora, à margem da ordem mundial.