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É este o termo: António Costa foi feliz no timing, na organização, nos convidados (de dentro e de fora do PS) e no discurso. Mais do que otimista o secretário-geral dir-se-ia contagiado pela felicidade ubíqua de Marcelo Rebelo de Sousa.
Até Vítor Moura Pinto, exímio observador do incongruente e irónico editor do absurdo, não foi capaz de encontrar argumentos sólidos para a peça que preparou sobre o Congresso do PS ao jeito do saudoso "Jardim das Notícias".
Com as suas intervenções, o secretário-geral atingiu vários objetivos:
Legitimar a sua fórmula - a chegada ao poder do PS não foi consequência de um assalto mas sim da demonstração de que, afinal, há alternativa, graças a um PS que soube ter a elasticidade suficiente para acolher uma franja partidária mais à Esquerda, evitando assim os extremismos que são a alternativa aos blocos centrais que se desfizeram por essa Europa fora;
Esclarecer que o PS continua a responder por si, como se depreende da orientação dada para as autárquicas, não existe fora da Europa e não desiste de lutar pela matriz social europeia que a "Direita neoliberal" pretende enfraquecer.
Fazer desaparecer Sérgio Sousa Pinto e assimilar Assis como "crítico construtivo".
Cortejar o PSD e CDS/PP concedendo-lhes patriotismo.
Afinar os motores para a corrida autárquica que se avizinha, afagando o poder local como uma pequena revolução que passa, em simultâneo, pela descentralização, desconcentração e democratização. Descentralização de competências diretas aos municípios, reforço da autonomia e legitimidade regionais, pela eleição dos presidentes das CCDR e democratização de um nível intermédio autárquico, e que passa pela eleição direta e universal dos presidentes das Áreas Metropolitanas.
Arrumar com a débil avaliação crítica de todos os partidos convidados que assistiram, lançando, mesmo no final, o repto irrecusável de uma moção conjunta de toda a representação parlamentar contra as alegadas sanções de Bruxelas.
Quem viu de fora percebeu a dificuldade de António Costa em pegar por uma ponta o novelo da estagnação económica em que nos enredamos e a urgência com que deve abandonar a glória das (recentes) conquistas passadas para orientar o futuro!
* ANALISTA FINANCEIRA