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O desastre foi anunciado quando o número de candidatos ao Ensino Superior caiu a pique: menos dez mil a concorrer do que no ano anterior. No fim de semana passado, confirmou-se que há algo de errado com as regras ou com o país, talvez com ambos (os diagnósticos variam): o número de colocados foi o mais baixo dos últimos anos, há dezenas de cursos que ficaram desertos (não é uma novidade, mas continua a ser chocante) e houve sete institutos politécnicos (em geral mais periféricos que as universidades) em que mais de metade dos lugares ficou por preencher. É verdade que faltam ainda a segunda e a terceira fase, e que o problema até pode ser atenuado, mas o alarme já está a soar.
Entre as várias hipóteses, a que merece maior consenso aponta para a mudança nas regras de acesso: mais exames para terminar o Secundário e para aceder ao Superior. Vários responsáveis contestaram este regresso ao modelo anterior à pandemia. É possível que tenham razão e que não tenha sido a melhor opção (os alunos que estão agora a chegar às universidades e politécnicos também atravessaram o período disfuncional da covid). Mas estão igualmente a assumir que é preciso reduzir a exigência, um paradoxo quando se trata de um nível de ensino que se devia destacar precisamente pela exigência.
Preocupante é também a possibilidade de a redução do número de candidatos e de alunos colocados se ficar a dever, em parte, à incapacidade de enfrentar os custos que representa estudar no Ensino Superior, em particular para os que teriam de deslocar-se para um local diferente daquele em que vivem. É certo que existe apoio social para as famílias mais pobres, mas as remediadas, que também contam os tostões, com pouco ou nada podem contar.
As consequências para o país de uma população menos instruída são óbvias e preocupantes. Precisamos de conhecer melhor as causas deste descalabro. Há que inquirir, analisar, tirar conclusões e corrigir. Ficar à espera do ano que vem não é uma opção.