A vitória de Rui Moreira, a maré António Costa que varreu o país e o contínuo esvaziamento dos partidos, a começar pelo abismo em que se colocou o PSD, são as marcas que ficam das eleições de domingo. Algumas dessas marcas vão dominar a política nos próximos anos.
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O Porto voltou a dar uma lição de dignidade e de liberdade ao país. A maioria absoluta conquistada por Rui Moreira - contra os diretórios dos partidos, contra as sondagens, contra os pequenos casos laterais à governação da cidade - é a vitória de um movimento que, como nunca antes, veio transformar a cidade, devolvendo-lhe o espírito empreendedor e o orgulho de ser portuense. A maioria de Moreira merece ainda maior destaque por ter sido um objetivo que Fernando Medina não conseguiu alcançar em Lisboa.
No Porto, como no país, os partidos foram largamente derrotados. O PSD perdeu câmaras e teve resultados humilhantes em alguns concelhos, o PCP perdeu câmaras, algumas delas emblemáticas, e o Bloco, à exceção de um vereador em Lisboa, não ganhou nada.
Os vencedores da noite, com Moreira à cabeça, foram os movimentos de cidadãos que, com 17 presidências, representam mais de 5 por cento das câmaras e mais de 7 por cento dos votos - são já a quarta força autárquica, valendo mais do que o CDS e do que o BE. Os eleitores, demonstrando grande esclarecimento, estão mais disponíveis para confiar a gestão das suas terras a pessoas do que a siglas.
Na verdade, mesmo o PS, obtendo resultados nacionais esmagadores, falhou em Lisboa (perdeu a maioria), falhou em Coimbra (não conseguiu a maioria) e falhou no Porto (não evitou a maioria). Mais do que uma vitória do PS e dos seus candidatos, esta foi sobretudo uma vitória de António Costa. Não indo a votos, o primeiro-ministro fez rentabilizar as políticas do seu Governo e as "injeções" de rendimentos e de moral que tem vindo a distribuir aos portugueses. Tarde ou cedo, haverá um preço a pagar. Mas, até lá, reina entre nós a felicidade e o espírito fraterno da maré rosa.
Muito dissecada tem sido a devastação que se abateu sobre o PSD, que não admira. Depois de já ter escrito sobre as suas estranhíssimas escolhas, sobre seu o abismal distanciamento face à sociedade, sobre a incompreensão do que são os problemas e as expectativas dos portugueses, resta-me concluir que o resultado do PSD está longe de ser surpreendente. Por muito respeito que tenha por Passos Coelho (e tenho), por muito que o país lhe deva (e deve), o certo é que fez tudo ao contrário e não pode ficar admirado com a dimensão da catástrofe. Mas, sobre o PSD, certamente muito se discutirá nos próximos meses.
* Empresário e Presidente da Associação Comercial do Porto